Sempre
fui um crítico da institucionalização das “coisas”. Tudo começa bem, tudo
começa puro e com fins louváveis. Então se institucionaliza a ideia, a visão e
o fim. Pronto, a partir de agora o que importa não é mais a ideia, a visão, o
fim. O objetivo agora é lutar para que a instituição continue firme, nem que
para isto seja necessário abandonar a visão e o fim para o qual ela (a
instituição) nasceu.
Grandes objetivos e projetos são abandonados no caminho institucional e pessoas são corrompidas de seus ideais. É como uma lavagem cerebral. Com o passar do tempo elas acreditam que o fim em si mesmo é manter a instituição viva, mesmo que ela seja só um amontoado de regras e normas que busca um suposto bem coletivo. O problema é que este coletivo acaba não existindo verdadeiramente, é uma falácia.
Tenho um ideal. Crio uma instituição para levar o ideal adiante. A instituição perde o foco e ela própria se torna o ideal. No fim das contas ainda acredito que estou lutando por um ideal, quando na verdade a minha luta é pela instituição.
Conversa de louco não?... Se quiser pare aqui e vai tomar ar fresco. Até eu já estou perdido.
Mas, e hoje? Onde além das empresas, ONG’s, igrejas, associações e etc. as pessoas também estão se institucionalizando. Como assim? Abra o seu perfil em qualquer rede social. O que você vê? Bem vindo a sua página oficial! A completa institucionalização do “Eu”. Um amontoado de regras e normas para definir “o que” você é.
Faça um teste. O que difere o Fulano do Beltrano? A qualidade das fotos? O destino das viagens? Uns vão para o exterior e outros fazem uma farofada na praia mais próxima. O colégio onde estudaram? A empresa onde trabalham? Em resumo: um amontoado de informações que define que você é um indivíduo da classe A, B ou C, sua condição perante a sociedade, seu estado civil, seus hobbies e por aí vai. Claro que tudo isso contado de uma maneira mais brilhante cheia dos pixels da modernidade.
As perguntas são: será que já nos perdemos nos ideais? Será que já estamos trabalhando para a manutenção da instituição chamada “Eu”. Quais são as estratégias de propaganda e marketing que criamos para melhorar a nossa imagem institucional? Talvez publicar aquela foto do vinho que degustei semana passada dê um improvement no meu quesito paladar refinado de petit sommelier, ou então adicionar a informação da conclusão da minha pós-graduação mostre ao “mercado” a minha preocupação com o desenvolvimento constante e sustentável da marca “Eu”. Será dizer muito que as relações humanas estão se convertendo em relações institucionais? Se sim, estou precisando urgentemente de um Vice-Presidente de Relações Institucionais ou de um lobista bem relacionado.
Não. Não sou hipócrita. Também estou “institucionalmente” lá e se você está lendo este texto é porque de alguma maneira você esbarrou com a “Eu” na rede mundial de computadores. Lá você encontra informações valiosas do que eu sou e pode acompanhar num timeline a história virtual da adeildo.com.
Ainda me pergunto onde encontrar a temperança no meio de tudo isso. Qual o ideal humano? Qual o fim e a visão que devemos seguir? A tecnologia mais ajuda ou atrapalha? As relações virtuais estão nos tornando homens e mulheres melhores?
Talvez a resposta resida na simplicidade, ou seja, não se institucionalize tanto assim. Seja mais informal. Seja um camelô de si mesmo. Faça venda boca a boca ou porta a porta. Prefira um escambo de ganha ganha com os mais chegados. Não se preocupe tanto em registrar os momentos quanto em vivê-los intensamente, mesmo que o “mercado” não tome conhecimento deles.
Talvez assim gastemos menos tempo nos preocupando com o que somos. Afinal de contas, tenho plena convicção que nenhuma rede social consegue ou algum dia conseguirá explicar “quem” somos nós.
Não permita que a institucionalização do “Eu” tire a pureza dos seus ideais. O objetivo por trás da sua criação é bem maior que tudo isto.
Tudo é puro para os que são puros. Tt 1:15