"Eu te mato", este era o único pensamento de Pedro enquanto tentava abrir a porta do quarto que havia sido trancada por Isaura.
Pedro continuou procurando pela casa toda. Sua respiração era ofegante e seus olhos marejados de ódio vasculhavam cada canto da sala e da cozinha. Nada, simplesmente nada. Ela havia evaporado como num passe de mágica ou algo assim. Pedro não sabia mais o que pensar e o que fazer. “Será que estou sonhando? Isso não é possível.”
Pedro se sentou no sofá da sala tentando colocar a mente em ordem. “Calma. Tem alguma explicação para isso. Ela não vai conseguir escapar assim tão fácil.” A calma aparente estava recheada de um ódio que arquitetava coisas horrendas para quando a encontrasse. Então, seus olhos se abriram, sua testa franziu e ele se lembrou de Guilherme.
“É isso. Ela ama esse pestinha. Já sei como a fazer aparecer.” Pedro seguiu calmamente até a porta do quarto de Guilherme, parou e girou a maçaneta bem devagar.
Isaura era muito dedicada ao seu filho. Guilherme era o único que conseguia tirar um sorriso dela. Os dois costumavam se sentar juntos no chão da sala e passarem horas brincando. Guilherme era o último sopro de vida de Isaura. Muito diferente disso, Pedro nunca esboçou um gesto de carinho com Guilherme. Suas respostas eram secas e ríspidas. Nos primeiros anos de vida de Guilherme Pedro tentou bater nele algumas vezes, mas Isaura sempre interveio quase sempre apanhando em seu lugar. O amor de mãe era tão grande que ela já havia comentado com todos no bairro, principalmente com aqueles que sabiam de seu calvário, que Guilherme era a única razão dela não desistir de tudo, de não tirar a própria vida.
Pedro abriu a porta do quarto lentamente. A luz da sala foi invadindo aquele pequeno quarto cheio de brinquedos espalhados pelo chão. Enquanto a claridade subia pelo cobertor do menino a mente de Pedro se enchia de pensamentos maus. “Ela vai aparecer. Ela não vai suportar me ver surrando esse pestinha.”
Pedro entrou no quarto sem fazer barulho e parou ao lado da cama. Seu rosto se transformou de tanta ira. Suas mãos trêmulas e o suor que escorria em sua testa eram a tradução de todo o ódio que estava sentindo.
Guilherme não estava lá.
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