quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Que não vença o melhor

Tenho acompanhado calado as discussões em torno da política e da sucessão presidencial mas “marmita” que sou, não resisti a alguns comentários... ou provocações, quem sabe?

Começo lembrando Tiago 1:27 que diz “A religião pura e imaculada para com Deus, o Pai, é esta: Visitar os orfãos e as viúvas nas suas tribulações, e guardar-se da corrupção do mundo”.

Ainda hoje não consigo me esquecer (e nem quero) de uma reportagem feita alguns anos atrás no sertão do Brasil onde um pai se enforcou por não suportar mais o choro de seus filhos em virtude da fome. Outro dizia ter pensado matar os próprios filhos na tentativa de preservar o sofrimento deles que morreriam aos poucos de inanição.

É fácil ficar legislando e defendendo posições aconchegados em nossas boas casas e com as barrigas efetivamente cheias de pizzas e lanches do Macdonald’s nos finais de semana. Nesta situação temos excelentes condições de analisar com cuidado os prós e contras de cada candidato e abusar de nossos conhecimentos econômicos e sociais.

Falar de populismo pela ótica de quem, se quisesse, teria condições de fazê-lo é uma coisa, outra bem diferente e falar dele pela ótica de quem o recebe e tem nele a própria salvação da vida. Falar de populismo com água encanada e uma geladeira que preserva os nossos alimentos até a hora em que os jogamos fora porque fomos ao supermercado e não temos mais espaço nela (a geladeira) é fácil, muito fácil.

Não fico totalmente confortável com comentários dizendo que a maioria da população se aproveita de auxílios governamentais, me parece cômodo rotular todo mundo de vagabundo sem ao mínimo conhecê-los. A maior parte das pessoas que faz este comentário nunca se quer passou perto de uma favela ou visitou lugares onde é necessário andar milhas e milhas até encontrar água menos suja para beber. Também não consigo acreditar que uma boa oferta de trabalho seja suplantada por esmolas para a maioria dos brasileiros.

Mas por incrível que pareça, todos os meus comentários acima não significam apoio ou apologia a este ou aquele candidato. Tentando manter o objetivo do blog, apologia cristã, o que me preocupa é o fato de começarem a dizer que a eleição a partir de agora pode ser decidida pelos religiosos porque isso definitivamente não é verdade. Não vejo um único religioso, no sentido bíblico da palavra, envolvido nisso tudo. Pois se sigo o que disse Tiago, o verdadeiro religioso deveria se preocupar com o social (ali referenciado como órfãos e viúvas) e se guardar da corrupção do mundo. Então, alguém poderia me dizer que são os religiosos no meio disso tudo? Seja pelo social, seja pela corrupção não vejo nenhum.

Se os religiosos de que falam são as instituições eclesiásticas também não concordo. Elas não conseguem representar a opinião de todos os seus fiéis, estes mesmos dispersos em várias classes sociais envoltos nas duas faces do populismo que hoje vivemos. Se o dom maior de Deus é a vida tenho certeza que quase todos optariam pela vida de seus filhos a proibir cidadãos maiores possuídores de livre-arbítrio de se unirem civilmente mesmo sendo do mesmo sexo ou seres humanos dotados de consciência decidirem o destino de seus fetos. Além do mais, o pecado é e sempre vai ser pecado, seja ele formalizado ou não por leis humanas.

Nossa hipocrisia cresce a cada dia e agora consegue encontrar aconchego nas lábias dos candidatos sedentos por poder. Chega ao ponto de imaginar que preceitos cristãos poderão ser incorporados a programas de governo no Brasil. Alguém pode me dizer quando isto verdadeiramente aconteceu na nossa história? Engano meu ou parece que eleger um governo mais “santinho” gera uma sensação de alívio as nossas consciências? O pior é acreditar em santidade e boas intenções no meio de um povo em que o sim pode ser não e o não sim dependendo do contexto, da audiência e do momento.

Pela primeira vez na vida não critico quem está em cima do muro ou de qualquer lado dele. A cada dia fica mais claro e visível para mim que este mundo só tem um lado e nós uma só saída.

Não sou contra a boa política e até acredito que ela existe, porém, só no dia em que tivermos um governo que visite órfãos e viúvas em suas tribulações e que se aparte da corrupção do mundo acreditarei que os religiosos decidiram a eleição. Até lá podem ter certeza que o melhor nunca venceu.