terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Um instante

O exato instante entre o passado e o futuro se chama presente e sem analisar a fundo a etimologia da palavra só me atento ao significado mais comum dela, “presente”.

Analisando todos os tipos de presentes que são perdidos cheguei a algumas conclusões. Me dei conta que mesmo presentes sem serventia aparente servem de lembrança das pessoas que o presentearam. Que presentes caros nem sempre são os mais desejados. Que presentes baratos as vezes possuem valores inestimáveis. E principalmente que ao contrário de outros o tempo é o único presente que não permite trocas, ele sempre vem ajustado ao seu tamanho, as suas aspirações, a soma do seu passado e a estatura dos seus sonhos e desejos futuros.

Olhando deste ângulo talvez você concorde comigo que muito pouco do nosso tempo, ou do nosso presente pode ser perdido. Ele só se perde quando vivemos querendo trocá-lo, ou seja, ao invés de aproveitar o presente dado, nos imaginamos vivendo um outro presente.

Te convido a rotular o seu presente, ou os seus presentes por assim dizer, da seguinte maneira: caros e baratos. Tente colocar todos eles nas divisões de horas, dias, meses e anos e separar caros e baratos. Veja se você consegue fazer relação entre os caros sendo aqueles que você gostaria de ter ganhado e os baratos como aqueles que você não faria tanta questão assim. O curioso neste exercício é que os nossos presentes mais caros (ou aqueles em que o nosso preço hora do tempo são mais elevados) são aqueles que, quase sempre, gostaríamos de trocar e os ditos mais baratos são aqueles mais preciosos, aqueles que não trocaríamos por nada neste mundo.

Agora o convite é para pensar no presenteador. Nenhuma das discussões acima tem sentido quando a ingratidão entra em cena. Eu nunca vi ninguém ganhar um presente, por mais ridículo que seja e não agradecer. Nós, por outro lado, além de não agradecer ainda queremos trocá-los a todo o momento. Sejam eles caros ou baratos o fato é que são presentes. Foram dados gratuitamente a você. Gratuitamente não significa que eles não custaram nada, muito pelo contrário.

Não podemos reclamar dos prazos de validade dos nossos presentes uma vez que não existe ninguém mais agraciado por presentes do que todos nós. Você pisca o olho e lá vem mais um.

A maior dificuldade para nós seres humanos é tentar imaginar Deus atemporal. Ao contrário dos nossos instantes pressionados entre o passado e o futuro no instante Dele habita toda a eternidade. Ele a separou em pequenos pedaços e nos presenteia com um pouco todos os dias, seguindo a máxima de que notícia boa é dada aos poucos.

O que desejo para todos vocês em 2011 é que aproveitem todos os instantes dele e que a somatória dos seus “presentes”, sejam eles caros ou baratos, se converta em gratidão a quem os presenteou, nem que seja por um instante.

Muito obrigado pelas visitas, emails, comentários e o incentivo de sempre. Que Ele nos permita “bloguear” muito mais em 2011.

Um grande abraço.


terça-feira, 7 de dezembro de 2010

O(s) Cara(s)

E, outra vez vos digo que é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus – Mt 19:24.

Tente se imaginar rico, muito rico, podre de rico. Se não estou enganado, a esmagadora maioria (se não a totalidade) dos leitores deste post terão que efetivamente aguçar sua imaginação pois não acredito que um ser muito rico desperdice seu tempo com leituras como esta.

Pois bem, se você conseguiu fazer o exercício da maneira correta você provavelmente não vai concordar com as palavras de Jesus escritas acima. Não esquente a cabeça, eu tambem não estou nenhum pouco favorável a elas.

Cheguei a esta conclusão analisando o fato de que talvez Jesus não me conheça tão bem assim. É impossível imaginar que uma pessoa tão bondosa e dedicada como eu esqueça dos princípios cristãos apenas porque se tornou rica. Justamente o contrário, as propriedades e o dinheiro, sem dúvida alguma, me permitiriam ser um genuíno cristão. As posses me ajudariam a ser mais fiel e caridoso, me possibilitariam mais tempo a disposição do reino, me concederiam a honra de ajudar orfãos, pobres e viúvas e toda sorte de necessitados. A riqueza me faria frequentar lugares onde valores cristãos não são comuns e eu teria a chance de testemunhar para outras esferas da sociedade através da minha vida. As igrejas se beneficiariam das minhas ofertas e donativos e eu poderia turbinar as ações sociais destas instituições. Eu não teria mais que perder tempo trabalhando em organizações onde poder, status e fama são os objetivos, eu poderia montar a minha própria empresa e gerar emprego para muitas pessoas e a minha organização seria dirigida com valores diferentes da sociedade atual. Eu não precisaria mais mentir apenas para manter uma situação, não teria rabo preso com ninguém e poderia falar a verdade em todos os momentos. Eu não teria mais problemas familiares ou conjugais pois teríamos condições de estar mais tempo juntos e o prazer do lazer e do tempo de qualidade nos aproximaria cada vez mais e seríamos um exemplo de família para outras pessoas que poderiam se aconselhar conosco e também melhorar seus relacionamentos. Eu poderia sustentar missionários, manter clínicas de recuperação, apoiar ações de combate a fome além de ter orfanatos e hospitais. Eu poderia criar um ministério que discipularia, ensinaria e enviaria ministros para todos os rincões do Brasil e do mundo. Definitivamente Eu seria o cara, o perfeito exemplo de Cristão. Todos poderiam me olhar e glorificar a Deus que está nos céus.

Não tenho dúvidas que Jesus estava enganado quando proferiu estas palavras, definitivamente ele não me conhece e não tem idéia dos meus motivos nobres de enriquecimento.

Pensando bem, com tanto dinheiro e tanta humildade eu pagaria para aumentar o buraco dessa agulha e diminuir o tamanho desse camelo.

NOTAS
- Embora pareça criativo e original o pensamento acima não é exclusividade do autor;
- Deus tenha misericórdia de mim e do resto dos “caras” que também pensam assim;
- Ironia = Expressão ou gesto que dá a entender, em determinado contexto, o contrário ou algo diferente do que significa. Achei melhor explicar, só por precaução.




terça-feira, 30 de novembro de 2010

E por falar em caminhos...

No meio de tantas possíveis direções seguir um único caminho parece ser a melhor opção. O caldo só entorna se o caminho que estamos seguindo não é o correto.

Na época em que fiz vestibular segui o conselho de um colega que dizia: “quando não souber a resposta marque a alternativa “C””. Sei lá de onde o cara tirou isso, só sei que segui a recomendação. Parece que optar previamente por alguma estratégia (seja ela qual for) é melhor que não ter nenhuma. Ou seja, seguir algum caminho é melhor que não ter caminho algum para seguir.

Em geral é mais cômodo seguir uma única direção, sem experimentar o desconforto que os novos caminhos trazem consigo. A grande maioria das pessoas são assim, rotineiras e tradicionalistas. É assim porque sempre foi assim e é melhor deixar assim. Mudar dá trabalho e quem me garante que mudando de caminho as coisas serão melhores?

Na maioria dos casos o orgulho é o principal motivo para continuarmos na mesma direção de sempre. A dificuldade de admitir que erramos, que o caminho que tomamos não era o correto, ou simplesmente não era o melhor é o que faz tantos continuarem apostando na mesma direção. É melhor continuar marcando a letra “C” do que admitir que está errado, retornar, estudar e ter a certeza de qual letra é a correta.

É preciso ter humildade para se arrepender. O arrependimento é o melhor construtor de estradas que eu conheço. Quando nos arrependemos uma infinidade de novos caminhos se abrem a nossa frente, via de regra caminhos bem melhores que os anteriores, com estradas melhores pavimentadas.

Te garanto que prosseguir na direção errada te dará muito mais trabalho do que mudar de caminho agora. Só quem descobriu que está na direção errada alguns metros depois do último retorno sabe o quanto é difícil percorrer os kilômetros seguintes. Que sensação terrível de perda de tempo e de recursos (gasolina principalmente).

Quanto mais tempo você seguir no caminho errado maiores serão as consequências e as perdas que você contabilizará. Leia os sinais, observe as placas, fique atento aos retornos (ou arrependimentos) e não fique receoso de seguir por novos caminhos.

Para os vestibulares deste mundo resolvi estudar um pouco mais e abandonar a dica do “mané” da letra “C”. Já para o vestiba do mundo espiritual consegui um professor particular que sempre me mostra a melhor alternativa, Ele trabalha como um GPS indicando os melhores e os novos caminhos. Ele indica mas nunca me obriga a tomar esta ou aquela direção. A decisão é sempre minha, embora saiba que só chegarei ao destino se for conduzido por Ele.

Espero que o meu e o seu orgulho não nos faça perder os retornos da vida nem nos deixe impossibilitados de seguir por novos e melhores caminhos.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Ele sempre encontra um caminho

Por mais potentes que sejam as armas, por mais afiados que sejam os insultos, por mais impiedosas que sejam as perseguições, por mais intransponíveis que sejam as barreiras e por mais insuperáveis que sejam os desafios o amor sempre encontrará um caminho.

A história é a melhor testemunha desta tese. De nada adiantou as tentativas de sufocá-Lo, de fazê-Lo regredir ou de impedí-Lo em sua caminhada. Reinos se renderam e continuarão se rendendo ao inexplicável ato de oferecer a outra face. Não existiu e nem existirão potências suficientemente poderosas para fazer frente a morte sacrificial. Nenhum dinheiro conseguiu e nem conseguirá pagar aquilo que nos foi entregue de Graça.

As últimas tentativas se mostram audaciosas. Buscam por meio da espionagem, da infiltração e dos disfarces a pretensa alcunha de amor. Instituições se levantam a todo o momento com brados de vitória e proclamam ter conseguido o feito de descrevê-Lo em normas e procedimentos MAS nada disto é ou será suficiente, afinal de contas, Ele sempre encontra um caminho. Caminhos estreitos, é verdade. Caminhos feitos por gente, por pecadores. Caminhos longe dos holofotes. Caminhos nunca solitários. Caminhos onde poucos enxergam as placas.

Surpreendentemente, quando imagino ter chegado ao fim Ele me ensina, pelo exemplo, que o final não é definido por mim, que basta seguí-Lo, Ele encontrará o caminho.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Abortos

Já faz um bom tempo que ouço, leio e vejo as discussões acaloradas sobre este tema. Não são poucos os comentários, tratados e teses a respeito dele e em todas elas o ponto central da discussão gira em torno do momento da criação da vida. Em resumo, interromper a vida de alguém é assassinato, mas uma vez que ela ainda não existe, ou em última instância, ainda não pode ser considerada como tal, não há o quê se punir. Porém, quando traço um paralelo da vida física com a vida espiritual tenho visto milhares de abortos acontecendo debaixo de nossos olhos enquanto fazemos muito pouco a respeito.

Se a tese mais comumente aceita entre os cristãos é que a vida física se inicia quando o espermatozóide penetra o óvulo. O início da vida espiritual acontece quando aceitamos a Jesus Cristo como nosso único e suficiente Salvador. Assim sendo, entendo – por analogia – que a interrupção forçada da vida espiritual após esse momento também é aborto.

No aborto físico há um grande número de técnicas para alcançar o resultado esperado e seja por sucção, curetagem, drogas abortivas ou qualquer outro método o objetivo de não perpetuar uma vida é o alvo a ser alcançado. No lado espiritual, as técnicas são mais sutis e encobertas e o objetivo nem sempre é claro, às vezes, nem mesmo para quem o pratica. O problema são as diversas vidas interrompidas como resultado dessa prática mortal.

A primeira técnica – nos dias atuais uma das mais utilizadas – usa Jesus como ferramenta. O processo se inicia com a propagação de um Jesus fantástico, um espírito iluminado, um líder sobrenatural, um formador de opinião, um pensador invejável, um empreendedor, um executivo e outros tantos adjetivos que podem ser vistos facilmente estampados nas dezenas de livros escritos a respeito, basta você entrar em qualquer livraria para comprovar. Como se trata de uma técnica sutil, suas premissas básicas são: esconder dos nascidos de novo que Jesus, antes de qualquer título terreno, é o Filho de Deus, que se faz carne, habitou entre nós e que um dia voltará. Esconder que sua missão era única, morrer em favor dos pecadores para que eles, através da Graça, alcancem a salvação. Nessa técnica a morte é lenta e sofrida. A vida recém gerada não percebe o que estão fazendo com ela uma vez que essa técnica evolui a cada dia e as sutilezas das pregações e mensagens a respeito do Jesus superstar se parecem cada vez mais inofensivas. A morte definitiva chega no discipulado quando a vida que ainda não se reconheceu como pecador percebe que só encontrará sua vida quando a perder, quando tiver de tomar sua cruz e seguí-lo, que só é forte quando é fraco ou quando tiver que dar a outra face ao invés de revidar. Sem força para seguir vivendo ela definha aos poucos quando começa a entender que Jesus é e exige muito mais do que líderes humanos podem ser ou fazer.

A segunda técnica – a mais cruel de todas – usa o reino como ferramenta. Tudo começa com as promessas irresistíveis de um reino onde tudo é bom e maravilhoso, onde não há doenças, desemprego, tristeza e nenhuma sorte de problemas. Afinal de contas, segundo os especialistas nessa técnica quem tem problemas não pertence a este reino. Se vendem as benesses de uma vida sem percalços onde o resultado é um verdadeiro mar de rosas, um paraíso sem fim aqui e agora. Nesse caso a morte nem sempre chega logo, parece que há uma sobrevida considerável e que as coisas funcionam bem durante algum tempo. O problema é que quando ela chega é quase sempre definitiva, com poucas possibilidades de recuperação ou ressurreição. Quando a nova vida começa a entender que a chuva e o sol nascem para todos – justos e ímpios – e que às vezes os maus prosperam mais do que ele o processo se inicia. Aos poucos a dúvida invade o organismo de uma maneira letal e o que foi pregado anteriormente parece não fazer mais sentido. O aborto termina após a primeira dificuldade ou o primeiro grande problema. Milhares de abortos como este estão acontecendo nesse momento, seja numa cidade alagada, num hospital super lotado ou na portaria de uma empresa que acabou de demitir parte dos seus funcionários.

O que dizer então de drogas abortivas. Assim como na vida cotidiana elas também são facilmente encontradas no mundo espiritual. A mais conhecida e comercializada de todas se chama orgulho e também pode ser encontrada na forma genérica, vaidade. Algumas novas vidas são apresentadas a elas muito cedo. Elas não têm gosto amargo, muito pelo contrário, são doces e no início produzem uma sensação de prazer incrível. Tudo acontece silenciosamente e de maneira contínua. Textos fora de contexto, promessas, palavras de ordem e determinações matam a humildade e o desapego tantas vezes pregados e ensinados por Cristo. A droga se parece com um “boa noite Cinderela”, o conto de fadas do sucesso cristão vai matando aos poucos até que se entre num coma espiritual seguido da falência múltipla de órgãos espirituais: consciência, coração e alma.

Mães inescrupulosas e sem alma geram filhos para matá-los pouco tempo depois. Não são poucas assim. Concepções (ou conversões) feitas sem amor e sem compromisso com a propagação do verdadeiro Cristo e do verdadeiro reino também acontecem aos montes. Quantas vidas teremos que perder até nos darmos conta dessa linha de produção de abortos espirituais?

Não se pode perpetuar uma nova vida espiritual sem que haja arrependimento. Para que vivam bem e com saúde novas vidas devem ser corretamente geradas. O momento da concepção é o mais importante. E nele deve primordialmente existir amor. Amor divino, amor supremo, amor salvífico, amor de sacrifício, amor de compaixão. Uma nova vida só tem a chance de sobreviver quando entende que é pecador e que a graça de Cristo é a única forma de continuar respirando.


Editorial escrito para a Revista Ideal - Edição 3
http://www.revistaideal.com.br/

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Da nossa preocupação com as coisas

Que coisa são estas “coisas”, não acha?... Chego a conclusão que o grande dilema é separar as “coisas”, afinal de contas Ele nos prometeu acrescentar todas as “coisas” se o reino Dele estivesse em primeiro lugar em nossa vida.

Quando presto atenção nas coisas começo a entender porque talvez muita gente confunde o reino com as “coisas” ou então as “coisas” com o reino, ainda não sei ao certo. De qualquer maneira não posso criticar ninguém por isso, dentre todos talvez eu seja o primeiro a cometer este tipo de confusão. As vezes quero ter as “coisas” para justificar o reino e outras vezes acredito que o reino não pode seguir adiante sem as “coisas”.

Uma coisa é certa, administrar as “coisas” dá um trabalho danado. Que atire a primeira pedra quem não vive envolto com as “coisas” na maior parte do seu tempo. Do outro lado temos um reino – que devia estar dentro de nós – para nos preocupar e cuidar. Mergulhados numa sociedade de “coisas”, via de regra, queremos então tirar o reino para fora e institucionalizá-lo, transformá-lo em “coisa” para então nos preocuparmos com ele.

Como justificativa – se é que elas cabem neste contexto – eu diria que como somos especialistas em administração de “coisas”, uma vez que fazemos isto a vida inteira, tratar o reino como mais uma delas facilita o nosso dia a dia.

O grande erro nesta nossa atitude é que perdemos a oportunidade de ter as “coisas” acrescentadas em nossa vida ao mesmo tempo que imaginamos possuir por completo um reino que nunca deve parar de ser buscado.

A beleza e o segredo estão na busca e não na administração. Mas como somos bons administradores e péssimos exploradores preferimos a zona de conforto das “coisas” aos pés e joelhos calejados da busca.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Que não vença o melhor

Tenho acompanhado calado as discussões em torno da política e da sucessão presidencial mas “marmita” que sou, não resisti a alguns comentários... ou provocações, quem sabe?

Começo lembrando Tiago 1:27 que diz “A religião pura e imaculada para com Deus, o Pai, é esta: Visitar os orfãos e as viúvas nas suas tribulações, e guardar-se da corrupção do mundo”.

Ainda hoje não consigo me esquecer (e nem quero) de uma reportagem feita alguns anos atrás no sertão do Brasil onde um pai se enforcou por não suportar mais o choro de seus filhos em virtude da fome. Outro dizia ter pensado matar os próprios filhos na tentativa de preservar o sofrimento deles que morreriam aos poucos de inanição.

É fácil ficar legislando e defendendo posições aconchegados em nossas boas casas e com as barrigas efetivamente cheias de pizzas e lanches do Macdonald’s nos finais de semana. Nesta situação temos excelentes condições de analisar com cuidado os prós e contras de cada candidato e abusar de nossos conhecimentos econômicos e sociais.

Falar de populismo pela ótica de quem, se quisesse, teria condições de fazê-lo é uma coisa, outra bem diferente e falar dele pela ótica de quem o recebe e tem nele a própria salvação da vida. Falar de populismo com água encanada e uma geladeira que preserva os nossos alimentos até a hora em que os jogamos fora porque fomos ao supermercado e não temos mais espaço nela (a geladeira) é fácil, muito fácil.

Não fico totalmente confortável com comentários dizendo que a maioria da população se aproveita de auxílios governamentais, me parece cômodo rotular todo mundo de vagabundo sem ao mínimo conhecê-los. A maior parte das pessoas que faz este comentário nunca se quer passou perto de uma favela ou visitou lugares onde é necessário andar milhas e milhas até encontrar água menos suja para beber. Também não consigo acreditar que uma boa oferta de trabalho seja suplantada por esmolas para a maioria dos brasileiros.

Mas por incrível que pareça, todos os meus comentários acima não significam apoio ou apologia a este ou aquele candidato. Tentando manter o objetivo do blog, apologia cristã, o que me preocupa é o fato de começarem a dizer que a eleição a partir de agora pode ser decidida pelos religiosos porque isso definitivamente não é verdade. Não vejo um único religioso, no sentido bíblico da palavra, envolvido nisso tudo. Pois se sigo o que disse Tiago, o verdadeiro religioso deveria se preocupar com o social (ali referenciado como órfãos e viúvas) e se guardar da corrupção do mundo. Então, alguém poderia me dizer que são os religiosos no meio disso tudo? Seja pelo social, seja pela corrupção não vejo nenhum.

Se os religiosos de que falam são as instituições eclesiásticas também não concordo. Elas não conseguem representar a opinião de todos os seus fiéis, estes mesmos dispersos em várias classes sociais envoltos nas duas faces do populismo que hoje vivemos. Se o dom maior de Deus é a vida tenho certeza que quase todos optariam pela vida de seus filhos a proibir cidadãos maiores possuídores de livre-arbítrio de se unirem civilmente mesmo sendo do mesmo sexo ou seres humanos dotados de consciência decidirem o destino de seus fetos. Além do mais, o pecado é e sempre vai ser pecado, seja ele formalizado ou não por leis humanas.

Nossa hipocrisia cresce a cada dia e agora consegue encontrar aconchego nas lábias dos candidatos sedentos por poder. Chega ao ponto de imaginar que preceitos cristãos poderão ser incorporados a programas de governo no Brasil. Alguém pode me dizer quando isto verdadeiramente aconteceu na nossa história? Engano meu ou parece que eleger um governo mais “santinho” gera uma sensação de alívio as nossas consciências? O pior é acreditar em santidade e boas intenções no meio de um povo em que o sim pode ser não e o não sim dependendo do contexto, da audiência e do momento.

Pela primeira vez na vida não critico quem está em cima do muro ou de qualquer lado dele. A cada dia fica mais claro e visível para mim que este mundo só tem um lado e nós uma só saída.

Não sou contra a boa política e até acredito que ela existe, porém, só no dia em que tivermos um governo que visite órfãos e viúvas em suas tribulações e que se aparte da corrupção do mundo acreditarei que os religiosos decidiram a eleição. Até lá podem ter certeza que o melhor nunca venceu.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Vida de gado


Eh, ôô, vida de gado
Povo marcado, ê
Povo feliz!

Não acredito que o Zé Ramalho tenha tendência para profeta ou coisa do gênero mas que essa música diz muito, isso sim. E o rebanho não para de crescer.

Não é novidade que a falta de conhecimento é a parideira ideal deste gado. Ano após ano, século após século, milênio após milênio a regra é a mesma e a máxima romana do “pão e circo” segue inabalável.

Seja para questões corriqueiras, políticas, tratados econômicos, teologia ou cristianismo o povo sempre paga um preço alto pela falta de conhecimento. Como não tenho pretensões políticas, econômicas ou teológicas me arrisco a analisar o fenômeno pelo lado cristão.

Não posso crer (baseado nas escrituras) que Cristo tenha vindo até a terra para se relacionar com seres irracionais, muito pelo contrário, a nossa criação bela e moral foi feita como semelhança Dele(s). Somos dotados de uma série de inteligências e acima de tudo temos o dom da abstração e da imaginação. Com todos estes atributos fomos colocados acima do resto da criação e com a incumbência da mordomia, ou seja, não está na nossa lista de atividades cá debaixo do céu uma vida parecida com a vida dos nossos amáveis bovinos.

Porém, a situação não mudou muito desde a ascensão de Cristo, muito pelo contrário, piorou bastante. Hoje vivemos na era da informação e uma vez que informação não é, por si só, conhecimento e muito menos sabedoria, a suposta pretensão de achar que sabemos e conhecemos tudo produz o que eu chamaria de “gado pós-moderno”.

Aos poucos os hábitos de estudo e leitura são suplantados por rápidas passadas de olhos em algum texto ou apresentação de power point. Discussões e conversas em grupos trocados pelo encaminhamento de emails que fulano ou ciclano me enviou e que eu não sei bem do se trata mas acho que faz sentido. Comida só aquela servida na boca e que atenda aos paladares refinados dos seguidores das teologias da prosperidade e da confissão positiva.

O maior problema de todos é que no meio de tantas vozes desconexas e sem sentido corremos o risco de não identificarmos mais a doce voz do nosso pastor. De mestre só nos convém chamar Um, que depois de subir nos enviou Aquele cuja atribuição seria nos instruir, nos ensinar, nos fazer enxergar a verdade num mundo de mentiras e enganações. Uma pena não contarmos com Ele para transformar nossas informações em conhecimento e em sabedoria. Na verdade um desperdício.

A alguns dias atrás falei a um grupo de pessoas sobre a necessidade urgente de voltarmos a ser ovelhas. Porque só elas sabem identificar com exatidão a voz do pastor.

Ovelha sim, gado pós-moderno não. A marca que eu carrego não foi feita com ferro quente.



sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Qualquer semelhança - final

Palavras que pareciam sementes lançadas aos corações. Erivelton dizia cada uma delas com paciência, sem pressa, embora cada uma delas fosse acompanhada por orações em espírito para que alcançassem o fim a que se propunham.

Ninguém naquele pequeno salão parecia imune ao que estava ouvindo. Era como se as palavras de Erivelton viessem acompanhadas de algo mais, algo espiritual além da simples percepção humana e de simples emoções.

Com o livro em punho, Erivelton faz um convite. Um convite que mudaria suas vidas por completo. Um convite precedido de uma decisão e ninguém que o aceitasse passaria incólume por aquele momento.

Era impossível não se sentir tocado pelo simples fato de entender o que aquilo significava. O silêncio tomou conta do local e Erivelton fez questão de deixar que assim ficasse. Parece que ele ouvia alguém mais falar além dele, com um tipo de voz que não se pode ouvir com os ouvidos.

De repente, no meio daquelas poucas pessoas, uma mão se levanta. Um homem de meia idade, aparência sofrida como se carregasse um fardo pesado em suas costas. Com algumas lágrimas lhe molhando a face caminha pelo corredor e Erivelton lhe recebe com um abraço apertado.

Com aquele ato tinha plena consciência de que seus problemas estavam apenas começando. A partir de agora ele era um cristão. Mas isso não o incomodava pois mesmo sem vê-Lo estava certo que daquele momento em diante Ele estaria junto dele todos os dias, até a consumação dos séculos.


NOTA
O blog Fora do Sistema esclarece: Este é um texto de pura ficção. Qualquer semelhança com fatos ou pessoas é mera coincidência.



quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Qualquer semelhança - parte 5

As palavras saíam como rajadas de encontro aos ouvidos da multidão. O som alto e o brilho das luzes completavam a atmosfera daquele lugar super lotado. Era se como tudo fosse possível, sem reservas, sem sofrimentos. Tudo ao alcance da sua vontade, dos seus desejos ou como ele dizia, “dos seus sonhos”.

Silvia se lembrou das dificuldades e adversidades que vinha atravessando junto com Junior e teve absoluta certeza que a mensagem era direcionada para ela. O final apoteótico chegou e Silvia rapidamente se dirigiu para frente do palco. Com ela outros tantos que tiveram o mesmo sentimento e que apressadamente corriam em busca dos primeiros lugares. A música envolvente, o barulho quase ensurdecedor e joelhos que começavam a se dobrar na expectativa de uma benção especial daquele homem. Tudo ali, palpável e a alguns passos de distância.

O fim chegou e com ele a confusão para sair do local. Um preço pequeno a ser pago diante de tudo o que havia acontecido até ali. Silvia pensou em ir até ele para conseguir uma foto ao seu lado mas desistiu depois de ver tantas pessoas a sua frente.

Após muito empurra empurra chegou até a saída convicta de que as coisas mudariam e de que seus problemas tinham dias contados. Ao encontrar Junior ela diz:

- "Eu te disse que não podíamos perder esta noite por nada, ele é incrível!"

Aquilo deixou Junior ainda mais chateado por não ter conseguido entrar e muito menos estar perto dele.

Silvia voltou para casa comentando tudo o que tinha visto e ouvido do lado de dentro, enquanto Junior se perguntava se no ano seguinte ele seria novamente convidado para estar com eles; mesmo que sim, um ano seria uma eternidade sem a solução dos seus problemas.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Qualquer semelhança - parte 4

Enquanto Teresa terminava de passar um pano úmido no chão Erivelton orava ajoelhado num canto do salão. Pedrinho dedilhava notas soltas no violão do pai enquanto Ana olhava para o irmão com ar de reprovação.

Perto das 19hs Erivelton se levanta e se coloca a porta do salão para cumprimentar os primeiros a chegar e lá fica até que Ana inicia os cânticos. Sem se importar muito com concordâncias, sujeitos e o correto tempo dos verbos a ministração gira em torno da felicidade de estar ali mais uma vez.

Mesmo sabendo o que aconteceria na sequência, como se a programação já tivesse enraizada em sua mente desde muito tempo, a impressão é que as palavras tinham novas conotações e intenções a cada novo momento daquela noite.

Entre resmungos e choramingos de algumas crianças Erivelton toma a palavra. Ele abre o livro e lê uma passagem tão conhecida que mal precisava olhar o texto para se recordar de todas as palavras nos mínimos detalhes. Poucos participantes tinham o livro em suas mãos mas tentavam compreender as palavras ditas por Erivelton. Na maioria das vezes elas eram como poesia para a alma. Daquele tipo que faz cócegas no entendimento dos iletrados e analfabetos.

Mesmo tendo comentado o mesmo texto várias vezes, momentos como aquele ainda causavam temor e ansiedade em Erivelton e mesmo falando a um público pequeno e sem muita cultura suas pernas insistiam em tremer. No rosto dos participantes o que se via era um misto de expectativa e conforto como se algo os tomasse nos braços.

Teresa ouve seu marido de olhos fechados e tira um lenço do bolso para enxugar algumas lágrimas. Em seus pensamentos pergunta a si mesma: “Porque será que eu choro toda vez?”.

Compenetrada em seu espírito não percebe que outros começam a experimentar o mesmo mover e que as lágrimas já não são mais exlcusividade sua.

Parecia haver mais alguém naquele lugar mas ninguém conseguia vê-lo.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Qualquer semelhança - parte 3

O evento começou e o que se via era uma multidão tentando chegar mais perto. Um lugar para se sentar parecia impossível mas ela seguiu com determinação, porém, o máximo que conseguiu foi um espaço no corredor lateral onde ficaria em pé por algumas horas.

O tempo passava rapidamente e ele ainda não estava lá. O que pairava no ar era uma ansiedade e uma expectativa coletiva para o momento de então poderem vê-lo.

De repente abre-se um corredor em meio multidão e com o auxílio do pessoal da recepção ele consegue chegar ao palco do evento.

As atenções foram tomadas e a partir daquele momento nada mais do que se falava parecia ter lugar na memória das pessoas. Toda a programação prévia parecia ter uma função meramente introdutória, sem a preocupação de fazer sentido uma vez que o ápice do evento girava em torno dele.

Júnior acompanhava tudo do lado de fora pois só encontrou um lugar para estacionar o carro muito longe dali e quando chegou não havia mais como entrar. Silvia não notou sua falta e ainda estava chateada por não ter conseguido um lugar para se sentar.

Quando ele tomou a palavra e iniciou seu discurso o silêncio tomou conta da multidão tal era a curiosidade acerca de suas palavras. Nem tudo o que ele dizia parecia fazer sentido mas a sua eloquência - fruto de muita experiência em eventos como aquele - era formidável e tudo era tão novo e arrebatador que um misto de dúvidas e aprendizados enchia os ouvidos e corações.

Silvia acompanhava atenta a cada palavra enquanto outros timidamente começavam a tirar fotos dele.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Grama do vizinho - Vou me lembrar

Lembre-se de quem bebeu do fel amargo de uma taça
Que ainda existe quem torça pra assistir uma desgraça
E dos fariseus, que engordam com aquilo que é nosso
E dos mercenários que cobram pra nos dar o que é de graça

Lembre-se de quem gera das entranhas o Seu povo
Que valemos mais do que o mundo inteiro com o seu ouro
Que aquele sacrifício, é vivo e permanece sobre todos nós para sempre

Lembrem-se do pão que nunca nos faltou em meio à seca
De quem multiplicou e faz com que nenhum dos Seus se perca
Que nunca foi alguém de carne e osso que nos fez mais nobres
Que não há mais ninguém melhor do que
Alguém que se fez pobre

Lembre-se de quem nos deu o próprio sangue como um selo
Que homens vão e vêm mais Ele permanece eternamente
Que Aquele que desceu, é o mesmo que subiu e que nos levará para sempre

Eu vou me lembrar, de não me esquecer
De tudo o que eu fiz
E sempre acreditar que o que me faltar
Deus já me deu
E pelo que eu vivi
Sempre glorificá-Lo

Eu vou me lembrar que mesmo assim
Eu nada sou
E sempre acreditar que
Quando eu morrer
Eu vou viver
E, sem parar
Pra sempre glorificar o meu Deus

Banda Resgate
CD Ainda não é o último

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Qualquer semelhança - parte 2

Longe dali, um pouco mais cedo, Erivelton e Teresa saem de casa a pé. Pedrinho e Ana acompanham os pais de longe enquanto brincam com as pedras que apanham na rua de chão batido.

- “Querida, quer que eu leve esse balde para você?”

- “Não amor, não se preocupe. Não está pesado”.

- “Uma chuva caía bem, não acha? Nesse verão a poeira aumenta quando os carros passam e o salão fica muito sujo”.

- “Também acho. O problema é que se chover o pessoal não aparece”.

A rotina era a mesma de sempre: chegar um pouco mais cedo, limpar o chão, arrumar as cadeiras e tirar o pó das janelas. Mas isso não os incomodava. Aquela noite seria como todas as outras e Ele estaria lá.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Qualquer semelhança - parte 1

Naquela tarde tudo parecia mais corrido do que costumava ser.

- “Corra senão vamos nos atrasar” dizia ele, fazendo com que ela tropeça-se entre as roupas e perdesse o secador de cabelos entre o caminho do quarto até o banheiro.

- “Se não chegarmos cedo não conseguimos um bom lugar. E você sabe que hoje vai estar lotado. Afinal de contas a divulgação foi grande e vem gente de todo lugar para vê-lo”.

- “Já sei, já sei... por favor tenha paciência. Eu preciso estar muito bem arrumada hoje.Porque você não se adianta e já tira o carro da garagem?”

Saíram apressados tentando descobrir um caminho sem muito trânsito. No carro a discussão continuou com acusações mútuas pelo atraso.

- “Já estou vendo tudo. Não vamos conseguir estacionar perto. Vamos ter que andar e vamos nos atrasar mais ainda”.

- “Problema seu. Me deixe na porta para que eu consiga um bom lugar. Depois você estaciona.”

O início da noite chegou e o evento era aguardado a muito tempo. Aquela noite seria diferente das outras. Afinal de contas ele estaria lá.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Democracia de 1

Eleições se aproximando e a velha ladainha de sempre volta a tona. O estado “democrático” será novamente colocado em ação. Se escuta novamente a falácia do regime perfeito: Democracia, um regime de governo em que o povo decide.

Não que eu queira colocar por terra seus anseios e esperanças políticas. Não que eu queira dar aula de antropologia ou sociologia. Não que eu queira te incentivar a votar ou deixar disso. Não que eu queira provar que o sistema está falido. Não que eu queira te incitar contras as autoridades constituídas. Nem de longe.

Contudo... já faz um bom tempo que meus projetos de lei para a vida são decididos na democracia de uma pessoa só e que por incrível que pareça não sou eu.

Se houvesse um povo de deuses, ele seria governado democraticamente. Um governo tão perfeito não convém aos homens.” Jean-Jacques Rousseau

E a falácia continua baseada na certeza de que são deuses.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Uma moeda para Caronte

O valor atribuído aos serviços prestados não é uma coisa nem um pouco nova, não é de hoje que o tempo a disposição e a serviço dos outros tem sua etiqueta e em alguns casos sua tabela de preços.

Na mitologia grega até mesmo depois da morte essa regra valia. Segundo consta, um bom e velho enterro só estaria completo se o corpo fosse baixado ao túmulo com uma moeda debaixo da língua (ou duas nos olhos). O ritual dizia respeito a Caronte, o barqueiro responsável por fazer a travessia das almas através do Rio Estige, que separava o mundo dos vivos do dos mortos. A moeda serviria para o pagamento da travessia e aqueles que não tivessem fundos nessa hora tão crítica ficariam 100 anos vagando pelo limbo. Além disso, essas pobres almas penadas – ou almas penadas pobres – se encarregariam de assombrar e assustar os vivos nas infinitas horas vagas desses 100 anos... aqui entre nós, deveriam assombrar mesmo os “camaradas” que não tiveram a mínima consideração de emprestar a última mísera moedinha aos amigos mortos.

O certo é que o conceito de fazer alguma coisa de graça nunca teve um apelo forte na história da humanidade e pelo que dizem de Caronte não adiantava implorar para pendurar a dívida ou então parcelar a travessia no cartão de crédito.

Talvez daí, desde muito tempo atrás, podemos entender o forte apelo pela compra. Impossível ganhar alguma coisa de graça, afinal de contas tudo tem um preço. E não apenas preço, mas um valor que gere lucro, só assim o processo fecha e todo mundo fica feliz. Seja do outro lado do rio, seja ficando rico de tanto transportar almas.

Alguns procuram acertar as contas por aqui mesmo imaginando ser essa a moeda certa para o “depois”, algo do tipo poupança programada ou aposentadoria garantida. Outros acreditam que estão pagando hoje a falta de recursos da vida passada ou então colhendo os lucros de pagamentos anteriores. Tudo num ciclo de serviços e pagamentos. Partidas dobradas de débito e crédito.

O problema, como sempre, fica para os pobres que não tem moedas para o “depois” e na cabeça de muitos, ainda pagam hoje as dívidas de ontém num destino de desgraça em cima de desgraça. Eles (os pobres) são sempre relegados a periferia (ou a um único lado do rio) sem direito a maiores travessias. A falta da moeda os persegue em vida e morte.

Seguindo o coletivo vigente, desde sempre, seria então normal chamar de louco alguém que apareça oferecendo algo tão nobre de graça. Como é possível que redenção e salvação sejam oferecidas de graça? Como pode alguém disponibilizar coisas tão caras aos pobres. Coisas antes reservadas apenas aos detentores da moeda.

Um “louco” que pode acabar com o negócio tão lucrativo dos Carontes da mitologia grega e da sociedade atual.

Um “louco” que substituiu as minhas míseras moedas reservadas para o fim por gotas de sangue que servem como passaporte e bilhete universal para a vida, morte e eternidade.

Os Carontes que achem outra ocupação. No que depender de mim seu negócio já faliu.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Aos cansados - final

Vou tentar resolver o dilema na contramão do senso comum. Seguindo o mesmo princípio que diz: quando você quer encontrar alguma coisa simplesmente pare de procurar.

Assim como maratonistas acham um segundo fôlego após os 30km creio que também posso usar dessa estratégia. Vou perseguir a linha de chegada antes que o meu joelho engripe de vez e que as minhas costas não me permitam olhar para frente sem estar sentado. Vou viajar nem que seja de carona. Vou trabalhar até que os resultados sejam entregues e que os novos desafios surjam. Vou ver o piá crescer e seguir o seu exemplo que fica bravo na hora de dormir e extremamente feliz quando “já tá de dia mãe? Posso levantar?”.

Concluí que meus sapatos ainda não estão suficientemente desgastados para reclamar do cansaço. Na minha maratona só cheguei aos 36 e espero que o fim dela seja muito além dos 42. Só espero não corrê-la sozinho.

A partir de hoje paro de procurar o descanso, afinal de contas alguém já o encontrou para mim. Alguém que trabalhou muito mais que eu. Alguém que aos 33km concluiu o maior e principal trabalho de todas as nossas vidas juntas e que nunca reclamou do cansaço e da responsabilidade que estava sobre os seus ombros.

Assim a solução do dilema soa simples. Fé.

Sono e cochilos para o cansaço passado e fé (fôlego) para eliminar o cansaço futuro.

Vou continuar correndo...



sexta-feira, 21 de maio de 2010

Sobre renúncias

Renúncia, taí outra palavra que vem perdendo seu significado ao longo do tempo.

Sempre que ouvia essa palavra minha mente automaticamente a conceituava como algo nobre, ou seja, alguém que possuía um imenso direito abriu mão dele e do benefício dele em favor de outra pessoa. Mais ou menos como uma mãe que renuncia seu tempo e suas noites em favor do filho, ou então o avô que renuncia o dinheiro de sua aposentadoria para que o neto possa estudar em um colégio melhor. Invariavelmente a renúncia (na minha cabeça é claro) significa deixar, abandonar ou desistr de algo bom e não substituí-lo por nada além da vontade de fazer o que é certo, o que é bom.

Pois bem, os anos vão passando, o amor vai esfriando e a renúncia começa a ter outro sentido. Renuncio uma coisa que a meu ver não é tão boa assim em favor de outra que considero melhor. Deixo, abandono e desisto daquilo que não tem mais valor para mim e vou em busca de algo melhor.

A verdadeira renúncia foi exemplificada por alguém que abandonou toda a sua glória para que os nós-cegos (como eu) pudessem achar uma saída. De quebra substituiu o seu manto pela pele nua, sua coroa por espinhos, louvores por cuspos na cara e seu trono por uma cruz.

Realmente não se fazem mais renúncias como antigamente.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Grama do vizinho - Eles são feitos de carne

– Eles são feitos de carne.
– Carne?
– Carne. Eles são feitos de carne.
– Carne?
– Já não há mais qualquer dúvida. Capturamos diversos deles de diferentes partes do planeta, trouxemos a bordo das nossas naves de reconhecimento e submetemos a todo tipo de exame. Eles são completamente carne.
– Isso é impossível. E que dizer dos sinais de rádio? As mensagens para as estrelas?
– Eles usam as ondas de rádio para conversar entre si, mas os sinais mesmo não vêm deles. Os sinais vêm de máquinas.
– Então quem fez as máquinas? São esses que queremos contatar.
– Eles fizeram as máquinas. É o que estou tentando te dizer. A carne fez as máquinas.
– Isso é ridículo. Como é que carne poderia fazer uma máquina? Você está me pedindo para acreditar em carne autoconsciente.
– Não estou pedindo, estou dizendo. Essas criaturas são a única raça autoconsciente daquele setor e são feitos de carne.
– Talvez eles sejam como os orfolei. Você sabe, inteligência baseada em carbono que passa por um estágio de carne.
– Não. Eles nascem carne e morrem carne. Estudamos as criaturas por vários de seus ciclos de longevidade, que são bem curtos. Você faz ideia de qual é a vida útil de carne?
– Poupe-me. Tudo bem, quem sabem eles sejam só em parte carne. Você sabe, como os weddilei. Uma cabeça de carne com um cérebro de electroplasma dentro.
– Não. Pensamos nisso, já que eles têm cabeças de carne como os weddilei. Mas eu disse, examinamos os caras. São carne do começo ao fim.
– Sem cérebro?
– Ah, têm cérebro, sim senhor. A questão é que o cérebro é feito de carne! É o que estou tentando te dizer.
– Mas… o que é que faz a parte de pensar?
– Você não está mesmo querendo entender, não é? Está se recusando a assimilar o que estou dizendo. O cérebro é que faz a parte de pensar. A carne.
– Carne pensante! Você está me pedindo para acreditar em carne pensante!
– Exato, carne pensante! Carne consciente! Carne amorosa. Carne sonhadora. A carne é a questão toda! Você está começando a sacar ou devo começar de novo?
– Meudeus. Você está falando sério então. Eles são feitos de carne.
– Valeu. Finalmente. Sim. Eles são de fato feitos de carne. E vêm tentando entrar em contato conosco ao longo de quase cem dos anos deles.
– Meudeus. Então o que essa carne tem em mente?
– Primeiro quer entrar em contato conosco. Imagino que depois queira explorar o universo, contatar outras entidades inteligentes, trocar ideias e informação. O usual.
– Estão esperando que a gente entre em contato com carne.
– É essa a ideia. É a mensagem que eles vêm transmitindo pelo rádio: “Alô. Tem alguém aí. Alguém em casa.” Esse tipo de coisa.
– Eles falam, então. Usam palavras, ideias, conceitos?
– Ah, sem dúvida. Só que eles usam carne para fazer isso.
– Você acaba de me dizer que eles usam o rádio.
– Usam, mas o que você acha que está no rádio? Sons de carne. Sabe quando você sacode ou estala um pedaço de carne e ele faz um barulho? Eles conversam estalando a sua carne uns para os outos. Até conseguem cantar, esguichando ar pela carne deles.
– Meudeus. Carne cantante. Isso já é demais. O que você aconselha?
– Oficialmente ou extraoficialmente?
– Os dois.
– Oficialmente somos obrigados a entrar em contato, dar boas-vindas e protocolar toda e qualquer raça consciente ou multiseres deste quadrante do universo, sem preconceito, medo ou preferência. Extraoficialmente, aconselho que apaguem-se os registros e que esqueçamos a coisa toda.
– Eu estava esperando que você dissesse isso.
– Parece cruel, mas há um limite. Queremos de fato fazer contato com carne?
– Concordo cem por cento. O que haveria para dizer? “Alô, carne. Tudo bem?” Mas será que isso vai dar certo? De quantos planetas estamos falando?
– Só um. Eles podem viajar a outros planetas em contêineres especiais de carne, mas não podem viver neles. E, sendo carne, só podem viajar no espaço C, o que os limita à velocidade da luz e torna a possibilidade de chegarem a fazer contato bem pequena. Quase nula, na verdade.
– Então só temos que fingir que no universo não tem ninguém em casa.
– Exato.
– Cruel. Mas você mesmo disse, quem quer conhecer carne? E aqueles que estiveram a bordo de nossas naves, aqueles que vocês examinaram? Tem certeza de que eles não vão lembrar?
– Serão considerados malucos se lembrarem. Entramos no cérebro deles e alisamos bem a carne, de modo que somos apenas um sonho para eles.
– Um sonho para a carne! É estranhamente apropriado isso, que devamos permanecer sonho de carne.
– E marcamos o setor inteiro como desocupado.
– Muito bem. Está concordado, oficialmente e extraoficialmente. Caso encerrado. Algum outro? Alguém interessante naquele lado da galáxia?
– Sim, uma tímida mas doce colmeia inteligente de aglomerados de hidrogênio numa estrela classe nove na região G445. Chegou a manter contato há duas rotações galáticas, quer reatar a amizade.
– Esse pessoal sempre acaba voltando.
– E porque não? Imagine quão insuportável, quão inconcebivelmente frio seria o universo para quem estivesse sozinho nele.

They’re made out of meat, um conto de Terry Bisson

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Aos cansados - parte 2

Na verdade existem dois tipos de cansaço. O primeiro deles é fruto do desgaste físico e mental das nossas várias atividades e esforços. O segundo (e mais complexo) é fruto da expectativa dos problemas e esforços futuros, mais conhecido como ansiedade. E quando me dei conta disso descobri porque ultimamente não estou conseguindo usufruir do descanso.

As oportunidades criadas pelo primeiro tipo de cansaço são facilmente assimiladas por todos nós e nos fazem sentir orgulhosos. Ao contrário disso, a ansiedade não traz consigo nenhuma oportunidade positiva. Ela apenas nos faz cansar previamente, sem contudo nos mostrar qual o motivo. E quando não há motivo, não há nada do que se orgulhar.

Interessante não acha? o bom cansaço se produz do passado, já o mau cansaço se produz do futuro. Sendo o presente o elo de ligação entre passado e futuro, o fruto dos cansaços, seja o bom ou o mau estão sobre os nossos ombros AGORA.

Provérbios (12:25) diz claramente que a ansiedade gera apenas abatimento e quando somamos cansaço mais abatimento o produto dessa adição não é nada leve para carregar sobre os ombros.

Além disso, existe uma contrapartida para o bom cansaço passado. Você consegue enxergar o quando ele vale. Seja o salário no final do mês, a boa nota na prova, a formatura, o carro novo, o bom relacionamento familiar, a progressão profissional. No caso do cansaço futuro não conseguimos nunca mensurar se ele valerá a pena ou não. Pior, quase sempre chegamos a conclusão de que ele não valeu nada.

Zeca Pagodinho talvez tenha achado a fórmula para reduzir pela metade o cansaço... deixe a vida te levar!!

Como desconfio não ser essa a melhor alternativa, sigo cansado em busca de outras mais confiáveis.

E pra variar um cochilo no sofá com direito a acordar com a cara do meu amigo da foto.

Abraço e um bom cochilo aos cansados.


segunda-feira, 19 de abril de 2010

Aos cansados - parte 1

Tenho andado cansado, até mesmo para escrever. Sei que isso não é privilégio só meu e que muitos de vocês aí do outro lado da tela também devem estar, mas se esse não for o seu caso pode parar a leitura aqui.

Refletindo sobre ele descobri que o cansaço traz consigo algumas coisas positivas, senão vejamos: sempre que converso com outra pessoa cansada ela faz questão de enaltecer o cansaço pelas suas muitas responsabilidades e desafios, ou seja, o cansaço se deve a algo maior, a algo que ninguém mais poderia fazer em seu lugar, algo que cabe a você, a sua missão.

Os cansados se vangloriam do seu próprio cansaço como o resultado do engajamento e do trabalho concluído a cada dia. Eles tem o direito de comer, se fartar e desfrutar do prazer das suas conquistas. Assim Paulo ensinou em forma contrária dizendo aos preguiçosos que não comessem se não quizessem trabalhar. E quem não trabalha não se cansa.

Na maioria das vezes o cansaço é o preço a ser pago quando nos propomos a fazer algo mais ou extraordinário. Como já ensinava o sábio “não há preço a ser pago para fazer coisas ordinárias (comuns)”.

Além dos aspectos positivos o cansaço traz consigo oportunidades. Oportunidade de assaltar a geladeira nas insônias da madrugada; oportunidade de orar e meditar depois da refeição básica das 3 da manhã; oportunidade de apreciar o cochilo no sofá depois do almoço de domingo; oportunidade de desfrutar os momentos tranquilos com mais intensidade; oportunidade de merecer o trabalho e as responsabilidades colocadas sobre nós. E eu posso te garantir que tenho usufruído sobremaneira dessas oportunidades que o cansaço me dá.

O ponto é que o cansaço dá trabalho... ou o trabalho cansa, sei lá.

Minha única questão é que não consigo usufruir da melhor de todas as oportunidades do cansaço, descansar. Não que eu não saiba em Quem eu deveria.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Asas de Socorro

Divulgando o site de uns amigos...

http://www.asasdesocorro.org.br/

Abraço Emersson e Tinara, foi muito bom revê-los em Goiânia.

Que nossas asas nos ajudem a sair do chão, em todos os sentidos.

Del

quinta-feira, 25 de março de 2010

Intrusos

Não sei se já posso dizer que existe muito pouca coisa que me surpreende nesse mundo. O ponto é que por mais surpreendente que sejam as notícias tenho a impressão que os ciclos são inevitáveis e que as vezes estamos todos falando das mesmas coisas sempre. Alguma espécie de Dejavu (taí uma coisa em que minha curiosidade terá que ser saciada na eternidade).

Mas apesar dessas constantes “repetições” existe uma coisa que por mais antiga que seja até hoje me surpreende. Amizade.

Já houve quem atribuísse a importância dela ressaltando o fato de podermos escolher os nossos amigos, ao contrário do que acontece com nossos familiares por exemplo. Eu penso diferente. Meus melhores amigos é que me escolheram e nesse processo eu fui um mero coadjuvante.

Sem dúvida nossos contatos diários com as mais variadas pessoas é intenso, porém, algumas delas são diferentes e especiais e por mais que anos passem existe algo maior sendo construído a cada bate-papo e em cada encontro. O legado construído pela amizade derruba as barreiras do tempo e consegue unir o passado, o presente e o futuro. Conversas com verdadeiros amigos são verdadeiros tratados da convivência humana.

Que diferente química havia no relacionamento de Pedro, Tiago e João com Jesus que os aproximava tanto? Quais são as diferenças básicas entre conhecidos, colegas e amigos?

Acho que não há resposta definitiva para essas questões. No final me parece que amizade é auto explicativa e enquanto esses adoráveis intrusos continuarem aparecendo em minha vida não será necessário resposta alguma.

Mesmo não seguindo o exemplo do meu melhor amigo, que bate a porta antes de entrar, que me perdoem alguns de vocês, mas vi a porta aberta e fui chegando depois Dele.

Um abraço.

terça-feira, 9 de março de 2010

Ele morre - final

Talvez o que você esteja esperando desse texto seja o final apoteótico da história, então das duas uma: ou você ficará contente (no mínimo satisfeito) com o final ou vai querer me encontrar na próxima esquina para termos um acerto de contas pelo seu tempo perdido. Paciência, finais são assim e eu assumo minha responsabilidade como autor da história.

O ponto é exatamente este. O final da história pertence ao seu autor e é ele quem o decide, queira você goste ou não, e se fosse diferente as histórias perderiam a sua essência, a sua graça, o seu encanto.

O que chama atenção nessa história que estou contando é que o personagem principal já sabia que ele morreria no final. A cena toda, o jeito e a forma da morte já estavam escritos pelo autor. A decisão de morrer pelos seus inimigos já havia sido tomada na eternidade e o personagem em total servidão ao autor seguiu o roteiro na íntegra.

Mas uma coisa é verdade, os bons autores dão vida aos seus personagens. Após criados e assumindo os seus papéis no desenrolar da história, os personagens começam a interagir com o autor e de alguma maneira começam a se responsabilizar pelas cenas seguintes como se o improviso fosse idéia deles (personagens) e não do autor.

Se é verdade que há um autor em nossa história também é bem verdade que com o passar do tempo assumimos a responsabilidade pelos nossos improvisos em cena. Eu podia chamar isso de livre-arbítrio mas alguns achariam muito formal e careta, então chamo de improviso humano.

Naquele momento da morte, o improviso humano Dele coincidiu com o roteiro do autor e esse fato mudou para sempre as histórias que seriam contadas no futuro. A partir daquele dia quando o nosso improviso (livre-arbítrio) coincide com o roteiro original do autor de nossas vidas o final é extendido até a eternidade.

Ele morre para que a nossa morte não seja o fim, só mais um capítulo.

Nunca pensei que ouviria uma história onde o herói morre no final (por vontade própria) e isso não causa tristeza e sim gratidão. E essa é, de longe, a melhor história que eu já ouvi.

Fim... ou não, só depende do seu improviso.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Nada de mal

Um dos nossos grandes problemas desde sempre é achar que não há nada de mal nas nossas mais perversas práticas. Temos o terrível costume de justificar ações com um simples “não há nada de mal nisso”.

Situação complicada e estúpida essa nossa, você não acha? Vivemos nos iludindo e tentando nos enganar. A maior parte de nossos pensamentos são como buscas de álibis, de desculpas que nos forneçam alívio a consciência. Damos um “google” em nossos pensamentos e o resultado da busca são milhares de páginas com o brilhante conteúdo “nada de mal”.

O “nada de mal” é ainda mais perverso na boca dos hipócritas. Nada de mal para mim que sou um santo, tudo de mal para você que deve caminhar sob o jugo da Lei nos seus mais pesados detalhes. Jugo que só pode ser mais pesado se for atado as costas dos outros.

Jesus bem sabia disso e em todas as suas conversas com Saduceus e Fariseus trazia isso a tona com seus argumentos. Para quem procura o caminho da justificação pelos seus atos Ele deixou a lição de que deveriam superar o modelo de vida destes hipócritas.

Se você é um usuário do “nada de mal” não queira encontrar o “tudo de mal” nas costas dos outros. E se você gosta de fardos pesados então também os carregue.

Espero que você não tenha achado “nada de mal” no que escrevi. E só para ficar registrado meus fardos eram pesados, eu não gostava deles. Até o dia que descobri que a cruz era o perfeito depósito de fardos. Minhas dores nas costas desapareceram e minha cerviz está amolecendo a cada dia, TUDO DE BOM.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Ele morre - parte 3


O ponto final de uma vida é sempre doloroso. Em especial quando falamos de heróis, de ícones, de referências. A morte de um piloto num domingo pela manhã. Uma princesa nos destroços de um carro num túnel. Cantores que insistem em não morrer no coração e mente de seus fãs mesmo quando overdoses dizem coisa diferente.

Se o coletivo geral torce para a morte dos maus, ele sangra e sofre com o final dos bons. Mas se o final é certeza para todos, então que o final dos bons seja deslumbrante. Que o guerreiro morra na batalha, que o cantor morra cantando, que o pacificador morra buscando a paz, que o bombeiro morra resgatando e que o guarda-costas se jogue na frente da bala. Já que é para morrer, que ela tenha algum sentido. Se não há como a evitar que sofram os maus e que se encham de glórias os heróis.

Mas o que fazer quando o herói morre em favor dos maus? Esse final é esquisito, estranho. Os créditos começam a subir e a gente fica com aquela cara de paisagem repassando o filme e tentando entender o que aconteceu.

Ele morre. Mas desse jeito???

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Da nossa intolerância com a morte

Já não é de hoje nossa intolerância com a morte. Mas tenho a impressão que ela vem se acentuando com o passar do tempo. Por mais parodoxo que seja, nossos velórios já não são mais tão alegres quanto costumavam ser.

Minhas humildes explicações para isso são: em primeiro lugar nossa perspectiva de tempo; algumas vezes 10 meses parecem mais tempo que 10 dias. Você já reparou como fica nossa noção do tempo quando estamos planejando uma festa? Nos 10 meses que a antecedem a impressão é que vai faltar tempo para organizar tudo o precisamos, em compensação os 10 dias anteriores parecem os mais longos da história, a véspera nem se fale, os minutos parecem dias em nossa ansiedade e expectativa.

Como nós estamos a tempo esperando o dia de uma festa (as bodas do cordeiro) os dias que a antecedem parecem que se desenrolam em marcha lenta. Aí reside a noção de que o tempo em que levaremos para rever nossos avós, pais, amigos e irmãos será extremamente demorado.

De outro lado me enxergo como o profeta Elias que se viu angustiado por não ser melhor que seus pais a ponto de pedir a morte para si. A cada dia que passa nossa luta contra a iniquidade é maior e nadar contra a maré da profecia de que o amor de quase todos esfriaria é uma dura batalha.

Contra isso só nos resta pedir aos nossos pais que orem para que sejamos melhores que eles e orarmos a Deus pedindo que nossos filhos sejam melhores do que somos. Só assim teremos alguma chance contra a profecia e poderemos ser contados com aqueles poucos que ainda mantem o amor vivo.

Nossa única alternativa é mantê-lo vivo através das gerações até o dia em que o vejamos face a face. Todos juntos eu espero.

Em memória da minha querida tia Neusa. Ao tio Dedé, Ricardo, Zanza, Deise e Di.

P.S.: O céu será tão bom que terá uma rampa encerada para que os pançudos e pançudas escorreguem.

Fiquem com Deus. Beijo.

Del

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Ele morre - parte 2

Esse negócio de acessar os “extras” e escolher um final alternativo serve principalmente para as pessoas acostumadas com finais felizes. E atire a primeira pedra aquele que não gosta deles.

Senão finais felizes pelo menos a retribuição e o pagamento aos que foram maus. Algo como os antigos filmes do Charles Bronson (Desejo de Matar 1, 2, 3, 4...). O cara bonzinho que sofre todo o tipo de violência, coisas do tipo: matam sua mãe, seu pai, seu cachorro, seus filhos e ainda colocam fogo em sua casa. Dá metade do filme em diante a vingança rola solta e o que prende a atenção do público é de que forma a vingança será feita.

Outro bom exemplo são as novelas. 300 capítulos de sofrimento e perseguição aos mocinhos para que na última semana tudo se resolva e o final feliz aconteça.

Não adianta, está impregnado em nossas cabeças. No final a vitória é de quem sobrevive. Os maus morrem, são presos ou terminam em hospitais psquiátricos e outras coisas que a mente dos vingadores constroem. Os bons vivem felizes para sempre.

Nem só de novelas ou ação vivem nossas histórias. Veja as comédias e os romances. Até mesmo nos dramas o roteirista se esforça para deixar uma mensagem final otimista depois de tanto sofrimento. Afinal de contas é o final.

Como imaginar que o herói morra? Nem com muita criptonita é possível aceitar que o super-homen fracasse na frente do Lex Luthor. Definitivamente nenhum super-vilão poderia ser capaz de parar um super-herói e ninguém gosta de assistir um final assim. O lado negro da força não pode vencer.

Mas por mais esforço que se faça ou opções que procuremos ainda não conseguimos mudar o final. Ele morre.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Ele morre

Interessante como ninguém gosta que lhe contem o final de um filme ou livro quando você o está assitindo ou lendo, mas por outro lado todo mundo é curioso de como será o amanhã (responda quem puder, o que irá me acontecer?) e por aí vai.

Vez por outra recebo um panfleto entregue em algum sinal com as respostas para todas as minhas perguntas, “quer saber o futuro? Cartas, búzios e tarô”.

Será que a curiosidade só diz respeito as nossas vidas? Quando se trata da vida alheia podemos esperar pelo final? Duvido. Acho que só conseguimos não ouvir ou ler o final antes da hora quando temos certeza de que ele estará lá quando o DVD terminar ou quando a última página surgir. Assim não há problemas, posso me dar ao luxo de só saber das coisas futuras no momento exato, no momento em que eu achar mais conveniente.

Existe explicação para tudo isso, afinal de contas o que seria da trama se não fosse o seu final? Lá tudo se encaixa, faz sentido. Lá descobrimos (e as vezes somente lá) quem são os verdadeiros mocinhos e os bandidos. Lá repousa o maior segredo de todos. O assassino só surge de cara limpa nos últimos minutos ou páginas. Reviravoltas tremendas podem acontecer nos últimos capítulos.

Só conheço uma história em que o final já era conhecido muito tempo antes dela começar.

E como sou chato vou te contar de antemão um segredo: Ele morre...

Mas não se preocupe, depois te digo como acessar os extras e escolher um final alternativo.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Bem-aventurados os que choram

Longe de mim tentar ser um grande intérprete das escrituras, no mínimo curioso eu diria. Sigo a linha da dúvida, acredito que ela prova mais a minha fé do que minhas poucas certezas, ou seja, a fé é mais clara quando há mais coisas sem explicação do que quando existem provas para elas.

Estou dizendo isso porque nessa semana me deparei novamente com o texto “Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados” em Mateus 5:4 e ele me fez pensar.

Corta o coração de qualquer um ver o poder destruidor de um terremoto e a situação de pessoas levadas ao limite das condições humanas na briga por míseras porções de comida e água. É de fazer chorar o sofrimento de crianças sem seus pais e de pais sem seus filhos. Não há maior produtor de lágrimas do que rostos e corpos feridos em busca de resgate e salvamento.

Contudo, ao ler a frase de Jesus escrita em Mateus no famoso sermão do monte, cheguei a conclusão de que meu choro não é um choro passível de consolo. Eu não mereço o pagamento por esta bem aventurança. Esse não é o tipo de choro que merece o consolo divino.

Acredito que Jesus não falava do choro de quem assiste a distância as mazelas do mundo e que não faz nada para mudar a história da humanidade. Choro assim tem mais cara de arrependimento e vergonha do que sofrimento.

Bendito será o consolo divino para aqueles que realmente choram o choro do sofrimento. Dos pequeninos colocados a margem da vida digna. Se não há plantação sem a devida colheita também não haverá choro sem o seu devido consolo para estes “bem-aventurados” citados por Jesus.

O evangelho e seus paradoxos, como pode ser feliz quem chora assim?... sou muito novo em relação a eternidade para tentar responder essa pergunta.

Sigo chorando de arrependimento e vergonha sabendo que não mereço nenhum tipo de consolo por isso.

Uma dica errada

Como não devo ser diferente da maioria ainda me lembro dos desenhos animados que eu assistia na minha infância. Um deles até hoje me vem a mente toda a vez que eu tenho que fazer alguma escolha importante. O desenho era do Pluto (o cachorro do Mickey Mouse). A história era a do gatinho recém-adotado pelo seu dono e que de alguma maneira colocava em risco todas as regalias conquistadas pelo cachorro até então. O ciúme aos poucos ia tomando conta do cachorro todas as vezes que ele via o novo hóspede receber atenção e carinho do seu dono. Isso acontece até o momento que o gatinho cai em um poço, aí começa o duelo de consciência do Pluto. Repentinamente lhe aparecem o Pluto anjo e o Pluto demônio. Cada um com seu argumento para salvar ou não salvar o gatinho.

Alguns poderiam argumentar que o processo é perfeitamente explicável através de duas palavras: tentação e resistência. O demônio está sempre dando a dica errada e o anjo (Espírito Santo) te aconselhando a resistí-la. Algo parecido com o que Paulo disse: “Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum; e com efeito o querer está em mim, mas não consigo realizar o bem. Porque não faço o bem que quero, mas o mal que não quero esse faço.” (Rm 7:18-19). Ou seja, temos uma queda pela dica errada.

Mas acho que tem saída para o problema. A dica errada parece certa. Assim sendo, se já sei que a dica errada é a que mais parece certa então é só optar pela que parece errada. Certo?... humm, não sei. Acho que posso me confundir na hora e optar pela errada que mais parece certa e pensar que a certa era a errada ou vice-versa. Tudo é muito rápido... “sem querer” posso escolher o errado pelo certo. Que confusão.

Na realidade o difícil é escolher a favor daqueles que na minha visão estão atrapalhando, estão incomodando, estão jogando contra e puxando meu tapete. A lógica joga a meu favor nesses momentos. Toda decisão que me beneficia parecer ser a escolha correta e ninguém em “sã” consciência me condenaria por isso. Só estou me preservando, nada mais. Mas pela ótica divina o certo aos nossos olhos nem sempre o é aos olhos de Deus.

No desenho o Pluto acaba resistindo a tentação de deixar seu “inimigo” morrer afogado e mesmo correndo o risco de ter que dividir suas regalias o salva. O resultado é um novo e bom amigo cheio de gratidão.

Acho que Jesus quis dar essa dica quando disse: “Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo, e odiarás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem; para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus;”

Parece uma dica errada mas não é.

Mas que as vezes dá vontade de afogar uns e outros, isso dá – bem disse Paulo. O segredo é resistir e ver a dica errada (que parece certa) fugir de você (de nós).

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Sinto o cheiro

Qual a memória mais antiga que você tem? Não sei se você já fez esse exercício de buscar em suas memórias qual a mais velha de todas elas. Até que ponto você consegue regredir? juventude, adolescência, infância? Do que se lembra? Apenas imagens, sons, ruídos, cheiros? Alguns médicos dizem que esse tipo de exercício pode fazer com que a perda de memória demore mais a chegar – demore, porque chegar ela vai, apenas questão de tempo.

Acho que já contei isso para algumas pessoas. Na minha memória mais antiga estou pulando num sofá meio alaranjado meio amarelo, usando uma camiseta azul com um desenho de um bichinho na frente, não me lembro ao certo qual. Minha mãe diz que provavelmente se trata de minha infância em São Paulo a muito tempo atras.

Mas também tenho memórias auditivas e principalmente “olfativas”. Nunca me esqueci (e nem quero) do cheiro da minha primeira bicicleta e ainda me lembro do cheiro da casinha que tínhamos atrás de casa. Quando busco no Winchester da minha caixola (nota de utilidade pública aos mais piás: winchester = disco rígido ou HD (hard disk) num passado não muito distante) consigo, de alguma maneira que não sei como, sentir de novo aqueles cheiros. O curioso é que só consigo me lembrar dos cheiros bons. Não me lembro de nenhum cheiro ruim do passado.

O salmista pedia a Deus que lhe ensinasse a contar os dias, de tal maneira que alcançasse um coração sábio. Além disso eu também peço: me ensine a contar meus dias sem me esquecer de sons, imagens e principalmente das boas fragâncias.

No antigo testamento os sacerdotes lançavam azeites e incensos como memoriais nos altares. Ofertas queimadas de cheiro suave ao Senhor, demonstrando que o cheiro, a fragância das coisas deve ter alguma importância para Deus. Nós mesmos ainda dizemos: “Isso não está me cheirando bem.”, deve ter alguma ligação. Coisas boas tem cheiro bom e não há como fazer coisas ruins nem mesmo cheirarem bem.

No novo testamento o maior sacrifício de todos criou uma nova memória nas narinas de Deus. Um novo padrão de fragância. A partir daquele momento qualquer um pode chegar perto Dele mas para isso precisa usar a fragância certa, o perfume certo.

Cheiro de nova criatura.

Com esse perfume Deus não se esquece do meu cheiro assim como não me esqueço do cheiro da minha antiga bicicleta. Na verdade “nova” bicicleta.

Bom, eu já estou sentindo o cheiro das minhas férias e espero lembrar dele por pelo menos mais um ano.

Escrevo mais na volta.

Até.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Diga-me como andas e te direi quem és


O jeito de uma pessoa andar revela muito sobre ela. Pelo menos é isso que alguns antigos americanos diziam. Sempre que viam alguns folks caminhando com as pernas um pouco abertas falavam com certeza que o camarada era um vaqueiro (um cowboy).

Hoje em dia não é só pela forma de caminhar que conseguimos adivinhar as preferências e o estilo de vida de algumas pessoas. Podemos observar médicos e enfermeiros vestindo branco; “Maurícios” e “Patrícias” na última moda; skatistas com suas cuecas a mostra; metaleiros com seus cabelos nem sempre bem lavados; surfistas com suas pranchas na Parati; e os cowboys e cowgirls modernos que mesmo sem nunca terem montado num cavalo usam suas calças justas, chapéus e cintos fivelados.

O meu caso por exemplo, 35 anos, com alguns quilos a mais e com um problema sério no joelho operado... você logo faz a ligação: um (ex)craque do futebol (arte). Ou você ainda não notou que só os craques tem problemas no joelho? Resultado de muitos dribles e faltas dos adversários (os “João” como Garrincha costumava chamar os zagueiros). Tá bom, concordo, não foi lá um grande exemplo.

Se você já leu alguma carta do apóstolo Paulo vai ver que ele falou muito sobre a forma do cristão andar. É claro que o “andar” aqui não significa o jeito físico mas sim os comportamentos, atitudes e a conduta de vida que distinguem aqueles chamados de cristãos. De acordo com Paulo, se você anda como um cristão, as pessoas o identificam como tal a milhas de distância, ou seja, mesmo sem serem seus íntimos amigos reconhecem em você alguma coisa diferente. Um “jeitão diferente”.

Até que não é tão difícil frequentar lugares, participar de grupos, sentir coisas, estudar diligentemente, ler a bíblia e orar. O difícil é “andar” de um jeito diferente, um jeito que as vezes parece loucura.

Mas não há como ser reconhecido por coisas que você sente mas apenas por coisas que você faz. Dizer que sente amor pelas outras pessoas mas não expressá-lo de nenhuma maneira não caracteriza esse “jeitão diferente”.

Por todos esses motivos tomo a liberdade de não concordar com um dos conceitos mais arraigados do coletivo social, a célebre frase “diga-me com quem andas e te direi quem és”.

Para seguirmos esse conceito teríamos que concordar que o Mestre (só Ele pode ser chamado assim) andou nesse mundo cercado das mais altas autoridades, de homens e mulheres ilibados, de pessoas castas e puras (santas e santos), dos políticos mais honestos, dos juízes e militares mais justos, dos mais tolerantes, humildes, sábios... e por fim das pessoas mais amorosas da face da terra.

Agora, se me lembro bem não é isso que está registrado nas escrituras... só se Mateus, Marcos, Lucas e João tenham se enganado na hora de transcrever com riqueza de detalhes as pessoas com quem Ele andava.

Como bem criticou Gandhi – que acreditava nos ensinos de Jesus mas menosprezava o cristianismo porque seus seguidores definitivamente não O imitavam – nossas ações devem espelhar as de Cristo. Precisamos parar de olhar com preconceitos para as pessoas e adotar uma postura de separação. Nosso papel deve ser o contrário disso, devemos estar dispostos a andar junto um dos outros, principalmente dos que mais necessitam.

Uso aqui (de novo) a frase de Francisco de Assis: “Pregue o evangelho sempre e quando necessário use palavras”.

Não podemos ser definidos pelas pessoas que nos rodeiam, mas como nos portamos no meio delas e para elas.

Então... Diga-me como andas e te direi quem és. Nesse conceito eu acredito.


segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Feliz todo dia


De acordo com alguns estudiosos da sociedade um dos grandes problemas das novas gerações para alcançar novas conquistas na vida é a Procrastinação (ato de deixar para depois, adiar ou postergar).

Não muito longe disso, a maioria dos livros e vídeos de auto-ajuda se focam nesse ponto repetidas vezes. Parece que a máxima “não deixe para amanhã o que você pode fazer hoje” está perdendo espaço em meio a pessoas que esperam ganhar dinheiro (com o mínimo esforço possível) para então não fazer mais nada, seja hoje ou amanhã.

Se você é responsável por uma casa ou pela manutenção de algo vai ver que sempre há um conserto a se fazer e que caso não seja feito no tempo correto o problema só aumenta, chegando as vezes a não ter mais solução. Se você é um empresário, trabalhador autônomo ou contratado vai ver que deixar de fazer as coisas no tempo certo significa perder dinheiro ou o emprego.

Me incomoda ler algumas biografias e constatar que grande parte dos homens e mulheres do passado fizeram muito mais do que nós sem contar com 1/10 dos recursos tecnológicos que dispomos hoje e com uma expectativa de vida muito menor que a nossa. Com o passar do tempo temos perdido esse senso de urgência e a visão de que nossa existência tem um propósito. Vivemos por viver e fazemos coro deixando ela (a vida) nos levar quando e como quiser.

Há quem diga que o futuro nos reserva um ambiente de “ócio criativo”, eu duvido, tenho visto muito mais ócio que criatividade na maioria dos mortais, ou pelo menos a busca dele. Assim como a fé é morta sem as obras, me permito dizer que a criatividade sem o trabalho também é. Não acredito que as mentes mais criativas desse planeta dormem e acordam com seus trabalhos prontos sem nenhuma dedicação ou persistência.

Se olharmos atentamente ao nosso redor, em que pese todo o avanço da sociedade, ainda há muito o que fazer em todas as áreas de nossa vida – pessoal, profissional, afetiva e espiritual. Ainda há muito o que se estudar, aperfeiçoar, criar, desenvolver e produzir. Ainda há muito o que se fazer debaixo do céu assim como haverá acima dele. Não fomos criados para o descanso (ócio), ele deve vir como consequência de uma vida produtiva e criativa ou criativa e produtiva – nesse caso a ordem dos fatores também não altera o produto, apenas a falta de algum deles.

Como diz o sábio escritor de provérvios: “A alma do preguiçoso deseja, e coisa nenhuma alcança, mas a alma dos diligentes se farta.”

Outro sábio contou uma história em que três homens estavam discutindo sobre o melhor momento para cortar um bom galho de árvore para fazer uma enxada. Um disse que o melhor momento seria na primavera, quando a seiva estava subindo. O galho então seria forte e flexível. Outro disse que o verão seria o melhor momento, porque a madeira estaria no topo de sua forma. O terceiro homem disse que ambos estavam errados - outono seria a melhor época, quando a seiva tivesse amadurecido e aperfeiçoado a madeira. Então um velho fazendeiro desceu a rua e, disseram eles: "Vamos perguntar a ele. Diga-nos, qual é o melhor momento para cortar um galho para se fazer uma enxada?" Ele respondeu: "Quando vocês o verem. Ele pode não estar lá da próxima vez que passarem por ali!".

Então é isso. Temos um ano novo em nossa frente, melhor fazer agora... só passaremos por ele uma única vez.

Depois tente adivinhar quem vai se fartar.

Aos diligentes, feliz 2010... ou melhor, feliz todo dia.