sábado, 28 de janeiro de 2012

Melhor assim - Final

Pedro caiu de joelhos ao lado da cama de Guilherme. Inerte sentiu seu coração se acalmar e a razão lhe voltar à mente.

A imagem que lhe veio à alma foi o exato momento, último momento, em que seus olhos cruzaram os de Isaura antes que ela desaparecesse. Pois naquele instante, a partir daquele momento, as coisas mudaram e só agora ele começava a entender as coisas como elas realmente se mostravam.

Não foi apenas Isaura que desapareceu. Junto com ela e com Guilherme também foi sua consciência. Ele se deu conta de que quando Isaura estava lá, seus pensamentos vagavam entre o que era certo e o que era errado. Se batia, sufocava e até matava a esposa. O sentimento de vingança e de culpa se alternavam em sua mente fazendo com o que a força do seu braço também se alternasse. Agora era diferente. A culpa e a vingança não estavam mais lá. Um súbito e forte sentimento racional lhe tomou por completo. Era como se as emoções tivessem deixado de existir. Como se o bem e o mal não mais travassem uma luta dentro dele. A atmosfera estava diferente. Ele inconscientemente sabia que alguma coisa havia sido retirada dele, da casa, do mundo, mas não sabia o quê. Só sabia que essa falta estava lhe fazendo bem naquele exato instante.

Pedro se levantou. Enxugou o suor do rosto. Abriu a janela do quarto e uma brisa suave lhe tocou a face. Apesar de toda a loucura daquela situação ele nunca esteve tão lúcido como naquele momento e a noite nunca havia lhe parecido tão acolhedora.

Silêncio. Pedro notou que o seu interior havia se calado. Onde está a minha voz? Porque não ouço mais o que eu tenho a dizer? O que faço agora? Se aquela situação lhe acalmava também lhe causava estranheza. Ele nunca havia se sentido daquele jeito. Quem mais falava dentro de mim? Porque não o escuto mais? O que se seguiu foi uma imensa sensação de solidão.

Mas se por um lado o silêncio interior e a solidão lhe batiam com fortes golpes, de outro a razão nunca lhe foi tão aguçada. Como um gênio capaz de solucionar as mais difíceis equações, Pedro se lembrou de tudo o que tinha se passado até aquele exato momento. De todas as decisões erradas que havia feito em sua vida. Entre elas, Isaura e Guilherme. Não era necessário que ninguém mais falasse em seu interior. Ele agora conseguia entender tudo por si só. Era como se um véu lhe fosse tirado dos olhos repentinamente.

“Melhor assim!”, foram as palavras que lhe saíram da boca. Nem nos seus melhores planos Pedro poderia imaginar uma solução como esta. Quem não gostaria de ver seus problemas simplesmente desaparecendo.

No céu uma lua cheia e clara iluminava toda a casa e o relógio do quarto de Guilherme marcava 0:00hs.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

O menino e o vale

Numa terra muito distante, onde não havia sol, uma tribo vivia dentro de uma imensa caverna iluminada pelas chamas de suas grandes tochas.

As densas trevas do vale fora da caverna sintetizavam tudo o que havia de mais aterrorizante e perigoso para eles. Histórias de pessoas que deixaram a caverna e que tiveram suas labaredas de luz quente consumidas pela fria escuridão eram contadas aos jovens que as ouviam com muito medo e respeito.

Todos nasciam e cresciam dentro da imensa caverna e ninguém ousava deixa-la. Aquele povo só prosperaria mantendo-se dentro da caverna e preservando aceso o fogo que segundo a lenda lhes havia sido enviado por Deus.

Certo dia ouviram-se gritos de socorro vindos de fora da caverna. Todos ficaram atordoados e perplexos com o que ouviram. Afinal de contas não lhes faltava ninguém. Todos estavam lá, sãos e salvos.

O conselho da tribo se reuniu para discutir o que deveria ser feito. A maioria dizia não fazer sentido se aventurar nas densas trevas do vale para salvar alguém que eles nem sabiam quem era. Grupos de resgate foram descartados, uma vez que a luz de suas tochas se dissiparia fora da caverna e à medida que menos tochas iluminassem a caverna mais escuridão entraria lá e colocaria em risco todo o povo.

Enquanto discutiam sem chegar a nenhuma conclusão os gritos de socorro se intensificavam e ficavam cada vez mais desesperados.

De repente, quando olharam para a entrada da caverna, viram o filho do chefe da tribo com uma pequena tocha saindo em direção ao vale. Todos correram para tentar impedi-lo, mas à medida que se afastava a luz de sua chama ia sumindo na escuridão. Amedrontados em seguir atrás dele, desistiram da ação.

Os minutos que se seguiram foram de confusão e pavor. O chefe da tribo culpava seus homens por não terem impedido seu filho. As mulheres choravam e se lamentavam pela criança e seguravam seus filhos lhes dizendo que nunca repetissem uma sandice daquela.

Só quando todos pararam de discutir é que se deram conta de que os gritos de socorro haviam cessado.

Os lamentos e choros pelo menino duraram vários meses. O tempo passou e nunca mais se teve notícias dele.

Misteriosamente, após aquele dia, ano após ano, o vale ficava mais claro e mais quente.

domingo, 15 de janeiro de 2012

Melhor assim - Parte 5

“Lançai sobre mim”, nada antes tinha falado tão alto ao coração de Isaura quanto isto. Um refrigério inexplicável invadia seu coração junto com uma sensação de alívio enquanto sentia um peso sendo retirado de suas costas.

Ela aceitou tão prontamente aquele convite que a distância da cadeira onde estava sentada até o chão frio na frente daquele pequeno salão parecia um só passo. Lourdes a abraçava e chorava. Não era um choro de tristeza, mas de muito contentamento. O que antes parecia ser um beco sem saída subitamente se transforma num caminho a ser trilhado com confiança e fé. Alguém a amava incondicionalmente.

Todos os problemas ainda estavam lá. Pedro não havia mudado. Seu casamento ainda precisava de restauração, mas agora a força para enfrenta-los nascia da sua própria fraqueza, do conhecimento de sua incapacidade e da confiança de que alguém se importava com ela e que chamava sua atenção nas tormentas da vida. Não era preciso pagar nenhum preço, muito pelo contrário, apenas desfrutar de um preço que já havia sido pago por outra pessoa.

Isaura deixou seu fardo naquele lugar. Isaura estava perdida e foi achada. Isaura mudou. Isaura nasceu de novo.

Os dias que se seguiram foram de completo espanto e admiração dos amigos e vizinhos de Isaura. “O quê te aconteceu mulher? Tá tão diferente?” era o comentário mais comum do bairro. Comentário esse que também chegou aos ouvidos de Pedro. Os colegas do boteco não demoraram a fazer piadas a respeito da situação.

É possível crer em alguém só de ouvir falar? Parece loucura, mas foi exatamente isso que Isaura fez. Suas esperanças não estavam mais depositadas neste mundo.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

O limite da fraqueza

"Fiz-me como fraco para os fracos, para ganhar os fracos." 1 Co 9:22. Lendo este texto fico me perguntando se Paulo pensou em algum limite para esta fraqueza quando o escreveu. Também me pergunto se atualmente a suposta fraqueza de alguns efetivamente tem o objetivo santo de ganhar os fracos.

Até que ponto a pregação do evangelho tem que se sujeitar a modismos e ondas pós-modernas de dominação do mundo e principalmente do consciente e inconsciente coletivo? Será que a cruz precisa de estratégias agressivas de marketing como os produtos tecnológicos ou as cadeias de varejo? Será que a TV e os programas de auditório, antes tão atacados pelos cristãos tradicionalistas, agora são a mais indicada forma de se pregar o evangelho de Cristo? Boas perguntas.

Não consigo acreditar que Paulo toparia lançar oferendas para Iemanjá a fim de alcançar os seus devotos. Também não consigo imaginar que Paulo toparia subir num palco e cantar “ai se eu te pego” a fim de abrir caminho para o coração do pessoal da “tribo” do sertanejo universitário. Não acredito em discipulado feito virtualmente, não foi assim que Jesus fez. Também não creio que o evangelho precise de subterfúgios de entretenimento coletivo para “vender” sua mensagem. Até porque ele não precisa ser vendido, é gratuito.

Talvez o limite da fraqueza citada por Paulo seja o da pessoalidade. Se fazer de fraco não significa ser fraco, ou seja, não é necessário ser viciado em nada para ter o mínimo de empatia com aqueles que são. Do contrário, seguindo esta lógica, seríamos forçados a pecar para demonstrar amor aos que pecam. Jesus não pecou e ninguém amou mais o pecador que ele.

Outro ponto é o motivo explicitado por Paulo para este tipo de atitude, ganhar os fracos. Se fazer de fraco só tinha este objetivo. Como sempre a resposta está no motivo e não na ação em si. Não tenho dúvidas quanto aos objetivos de Paulo, sua vida traduziu na íntegra tudo o que ele pregou. E hoje? O motivo ainda é o mesmo? Estamos fazendo papel de tolos e fracos buscando as mesmas glórias de Paulo? Tenho lá minhas dúvidas. E quando digo isso não penso em ninguém mais além de mim. Meu coração é enganoso e falho. Vivo a várias centenas de anos distante de Paulo e do primeiro derramar do Espírito Santo. Tenho receio de, no mínimo, me perder na fraqueza enquanto tento ganhar os fracos. Acho melhor mostrar a fortaleza da rocha na qual procuro me firmar a cada novo dia.

Na maior parte das vezes acho que estamos abrindo mão da nossa responsabilidade na expansão do reino. A maior propaganda do evangelho deveria ser nossas vidas. Pregações ambulantes. Corpos cravejados de cicatrizes que provam a eficácia do evangelho. Vidas redimidas e limpas através do sangue de um cordeiro inocente. Mas ao invés disso, na maior parte do tempo, temos terceirizado nosso chamado para ícones do mundo gospel na esperança que eles preguem, discipulem e conduzam vidas até a cruz.

É difícil não ser pessimista quanto a eficácia dessa estratégia para o reino de Cristo. Continuo acreditando não haver comunhão entre luz e trevas.

O limite da fraqueza citada por Paulo é Jesus. Enquanto Ele for o ÚNICO caminho apontado por você ok, mas caso Ele se torne UM DOS, então você deixou de se fazer de fraco e passou a ser um deles.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Melhor assim - Parte 4

"Eu te mato", este era o único pensamento de Pedro enquanto tentava abrir a porta do quarto que havia sido trancada por Isaura.

Pedro continuou procurando pela casa toda. Sua respiração era ofegante e seus olhos marejados de ódio vasculhavam cada canto da sala e da cozinha. Nada, simplesmente nada. Ela havia evaporado como num passe de mágica ou algo assim. Pedro não sabia mais o que pensar e o que fazer. “Será que estou sonhando? Isso não é possível.”

Pedro se sentou no sofá da sala tentando colocar a mente em ordem. “Calma. Tem alguma explicação para isso. Ela não vai conseguir escapar assim tão fácil.” A calma aparente estava recheada de um ódio que arquitetava coisas horrendas para quando a encontrasse. Então, seus olhos se abriram, sua testa franziu e ele se lembrou de Guilherme.

“É isso. Ela ama esse pestinha. Já sei como a fazer aparecer.” Pedro seguiu calmamente até a porta do quarto de Guilherme, parou e girou a maçaneta bem devagar.

Isaura era muito dedicada ao seu filho. Guilherme era o único que conseguia tirar um sorriso dela. Os dois costumavam se sentar juntos no chão da sala e passarem horas brincando. Guilherme era o último sopro de vida de Isaura. Muito diferente disso, Pedro nunca esboçou um gesto de carinho com Guilherme. Suas respostas eram secas e ríspidas. Nos primeiros anos de vida de Guilherme Pedro tentou bater nele algumas vezes, mas Isaura sempre interveio quase sempre apanhando em seu lugar. O amor de mãe era tão grande que ela já havia comentado com todos no bairro, principalmente com aqueles que sabiam de seu calvário, que Guilherme era a única razão dela não desistir de tudo, de não tirar a própria vida.

Pedro abriu a porta do quarto lentamente. A luz da sala foi invadindo aquele pequeno quarto cheio de brinquedos espalhados pelo chão. Enquanto a claridade subia pelo cobertor do menino a mente de Pedro se enchia de pensamentos maus. “Ela vai aparecer. Ela não vai suportar me ver surrando esse pestinha.”

Pedro entrou no quarto sem fazer barulho e parou ao lado da cama. Seu rosto se transformou de tanta ira. Suas mãos trêmulas e o suor que escorria em sua testa eram a tradução de todo o ódio que estava sentindo.

Guilherme não estava lá.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Ou tudo ou nada

O juiz nazista Roland Freisler durante o julgamento de Helmut Moltke disse uma frase que ficou célebre no mundo todo. Ao comparar o nazismo com o cristianismo Roland disse: “Nós e o cristianismo só temos uma coisa em comum: exigimos a pessoa toda!”.

Olho para esta frase e tento fazer um paralelo com o cristianismo que vivemos hoje. São tantas vozes, discursos, defesas e ataques de como os cristãos devem se portar numa sociedade pós-moderna relativista e cheia de sincretismos religiosos, que me parece que Roland talvez pensaria duas vezes em pronunciá-la novamente. Por quê? Talvez Roland não encontre mais um “cristianismo” que exija a pessoa toda.

É quase chover no molhado mas é sempre bom lembrar o que significava ser cristão logo após a ressureição de Cristo. Além de exigir a pessoa toda em vida o preço mais comum a ser pago pela cristandade era encarar a própria morte, ou seja, efetivamente doar a própria vida. Particularmente se ouvisse Roland dizer isso nessa época certamente diria que ele estava forçando a barra pois não acredito que o fervor de um soldado nazista era o mesmo de um jovem cristão antes de ser devorado por leões.

Contudo, hoje em dia, as concessões feitas por cristãos pós-modernos batem de frente com a afirmação de Roland. Hoje é possível ser cristão mas viver pacificamente com ideologias que mudam radicalmente o cerne do evangelho de Cristo. É possível ser cristão e abrir concessões a ponto de pregar Jesus como sendo mais um caminho e não mais O ÚNICO caminho. É possível ser cristão e dividir sua vida em busca de “bênçãos” modernas e utilitaristas. É possível ser cristão por apenas 2 horas na semana e investir o resto do seu tempo. Afinal de contas tempo é dinheiro e dinheiro é sinal de vitória e sucesso.

O mundo evolui e junto com ele a decadência moral e espiritual do homem. Até que ponto os cristãos se manterão fiéis ao cerne do evangelho de Cristo, aquele que exige a pessoa toda, eu não sei. O que sei é que isso tudo não é novidade nem surpresa para nós.

A iniquidade se multiplicará até o ponto em que “a pessoa toda” signifique um preço muito alto. Quanto mais o tempo passar a comparação de Roland fará menos sentido para quase todos.

Ou tudo ou nada. Jesus não deixou espaço para meio termo.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Melhor assim - Parte 3

Afinal de contas, quem pode definir o seu destino? Será que já está tudo escrito mesmo? Pensamentos e perguntas rodeavam os pensamentos de Isaura. Emoções e sentimentos que se misturavam com a preocupação em não atrasar o jantar de Pedro.

Com o passar das horas ela começou a refletir sobre a maluquice que estava fazendo. “Isso aqui é um lugar de loucos. Não sei o que estou fazendo aqui. O Pedro vai me matar hoje.”, pensava Isaura enquanto Lourdes tentava tornar aquela reunião agradável e entendível para ela.

De repente um homem esguio, com um terno surrado e uma gravata esquisita assume o microfone e começa a falar calmamente. No início as palavras dele pareciam emocionais demais para Isaura mas um tempero e um apelo no ar a fez querer prestar um pouco mais de atenção a tudo aquilo.

Um discurso meio sem nexo. Ela não entendia quase metade do que ele falava mas gostava da convicção com que ele pronunciava cada frase. Quando começou a ligar os pensamentos dele ela quase começou a dar risadas. “Não é possível! É isso mesmo que ele está dizendo? Definitivamente estou no meio de loucos. Quem pode acreditar numa tolice dessas?”. Isaura começou a ficar incomodada com aquilo tudo e disse a Lourdes que queria ir embora. Lourdes insistiu para que ela esperasse um pouquinho mais. “Assim que ele terminar podemos ir.” lhe garantiu sua vizinha.

Não mais que por acaso o discurso dele começou a mudar e as maluquices sobre um povo que iria desaparecer deram lugar a possibilidades de recomeço, de perdão e descanso. Isaura nunca havia escutado aquela história antes tão conhecida contada daquela forma. Um certo silêncio apareceu em sua alma e nenhum barulho externo parecida incomodá-la mais. Era como se aquela história fosse a dela e aquele remédio fosse o que ela mais precisasse.

“A Lourdes contou tudo para ele. Eu mato ela. Isso que dá confiar nas pessoas. Bem que o Pedro me disse!” esta era a única explicação que Isaura encontrava para aquelas súbitas palavras ditas por um homem que ela nunca tinha visto antes.

Mesmo assim lágrimas começaram a lhe molhar a face e a hora do jantar de Pedro não lhe incomodava mais.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Grama do vizinho - Max Lucado

Testemunhas oculares da sua Majestade

O cristianismo, em sua forma mais pura, não é nada mais do que ver Jesus.

O exercício cristão, em sua forma mais pura, não é nada mais do que imitar Aquele que vemos.

Ver Sua Majestade e imitá-lo, essa é a essência do cristianismo.

Por cinquenta e um anos Bob Edens foi cego. Ele não conseguia enxergar nada. Seu mundo era uma sala escura de sons e cheiros. Ele tateou o seu caminho por cinco décadas de escuridão.

E depois, ele conseguiu enxergar.

Um cirurgião habilidoso realizou uma operação complicada e, pela primeira vez, Bob Edens pôde enxergar. Ele achou impressionante. “Eu nunca sonharia que o amarelo fosse tão... amarelo”, ele exclamou. “Eu não tenho palavras. Estou maravilhado com o amarelo. Mas o vermelho é a minha cor favorita. Simplesmente não consigo acreditar no vermelho.

“Posso ver o formato da lua – e o que eu mais gosto é ver um avião a jato atravessando o céu e deixando um rastro de vapor. E claro, o nascer do sol e o pôr do sol. E à noite eu olho para as estrelas no céu e para a luz piscando. Você nunca conseguiria saber o quão tudo é admirável”.

Ele está certo. Nós que vivemos uma vida com visão não conseguiríamos saber o quão admirável deve ser receber a visão.

Mas Bob Edens não é o único que passou uma vida perto de alguma coisa sem enxergá-la. São poucas as pessoas que não sofrem de alguma forma de cegueira. Surpreendente, não é? Podemos viver perto de alguma coisa por uma vida, mas a menos que tomemos tempo para focarmos nela, ela não se torna parte de nossas vidas. A menos que nós, de alguma maneira, tenhamos nossa cegueira retirada, nosso mundo é apenas uma caverna escura.

Pense nisso. Só porque alguém testemunhou mil arco-íris não significa que ele viu a grandeza de um. Alguém pode viver perto de um jardim e falhar em focar no esplendor da flor. Um homem pode passar uma vida com uma mulher e nunca parar para examinar a sua alma.

E uma pessoa pode ser extremamente boa e ainda assim nunca ver o Autor da vida.

Sermos honestos, éticos ou até mesmo religiosos não necessariamente significa que nós o veremos. Não. Nós podemos ver o que os outros veem nele. Ou podemos ouvir o que alguém diz que ele disse. Mas até que nós o vejamos por nós mesmos, até que recebamos a nossa própria visão, podemos achar que o vimos, tendo na realidade visto apenas uma forma vaga na penumbra cinzenta.

Você o viu?

Você já teve um vislumbre da Sua Majestade? Uma palavra é colocada em uma fenda receptiva do seu coração que faz com que você, brevemente, veja o seu rosto. Você ouve um versículo lido em um tom que você nunca tenha ouvido ou explicado de uma maneira que você nunca tenha pensado e mais uma peça do quebra-cabeça é encaixada. Alguém toca seu espírito dolorido como apenas alguém enviado por ele poderia fazer e aí está ele.

Jesus.

O homem. O Galileu bronzeado que falava com uma autoridade trovejante e amava com uma humildade infantil.

O Deus. Aquele que afirmou ser mais velho que o tempo e maior que a morte.

Foi-se a pompa da religião; dissipou-se a névoa da teologia. Momentaneamente é levantada a cortina opaca da controvérsia e da opinião. Os nossos erros cegos e egoísmos são apagados. E lá está ele.

Jesus.

Você o viu?

Os primeiros que o viram nunca mais foram os mesmos.

“Senhor meu e Deus meu!”, bradou Tomé.

“Eu vi o Senhor”, exclamou Maria Madalena.

“Vimos a sua glória!”, declarou João.

“Não estava queimando o nosso coração enquanto ele nos falava?” alegraram-se os dois discípulos a caminho de Emaús.

Mas Pedro expôs melhor. “Nós fomos testemunhas oculares da sua majestade”.

Sua Majestade. O imperador de Judá. A sublime águia da eternidade. O nobre almirante do Reino. Todo o esplendor do céu revelado em um corpo humano. Por um período tão curto, as portas da sala do trono foram abertas e Deus se aproximou. Sua Majestade foi vista. O céu tocou a terra e, como resultado, a terra pode agora conhecer o céu. Surpreendentemente um corpo humano abrigou a divindade. O santo e o terreno entrelaçados.

Já faz algum tempo que você o viu? Se as suas orações parecem gastas, provavelmente faz. Se a sua fé parecer estar vacilante, talvez sua visão dele tenha obscurecido. Se você não consegue achar força para encarar os seus problemas, talvez seja hora de encará-lo.

Um aviso. Alguma coisa acontece a uma pessoa que tenha testemunhado Sua Majestade. Ela se torna viciada. Um vislumbre do Rei e você é consumido por um desejo de ver mais dele e falar mais sobre ele. Esquentar o banco da igreja não é mais uma opção. A religião de má qualidade não será mais suficiente. A procura de sentido é desnecessária. Uma vez que você tenha visto a sua face você sempre almejará vê-la novamente.