quinta-feira, 25 de março de 2010

Intrusos

Não sei se já posso dizer que existe muito pouca coisa que me surpreende nesse mundo. O ponto é que por mais surpreendente que sejam as notícias tenho a impressão que os ciclos são inevitáveis e que as vezes estamos todos falando das mesmas coisas sempre. Alguma espécie de Dejavu (taí uma coisa em que minha curiosidade terá que ser saciada na eternidade).

Mas apesar dessas constantes “repetições” existe uma coisa que por mais antiga que seja até hoje me surpreende. Amizade.

Já houve quem atribuísse a importância dela ressaltando o fato de podermos escolher os nossos amigos, ao contrário do que acontece com nossos familiares por exemplo. Eu penso diferente. Meus melhores amigos é que me escolheram e nesse processo eu fui um mero coadjuvante.

Sem dúvida nossos contatos diários com as mais variadas pessoas é intenso, porém, algumas delas são diferentes e especiais e por mais que anos passem existe algo maior sendo construído a cada bate-papo e em cada encontro. O legado construído pela amizade derruba as barreiras do tempo e consegue unir o passado, o presente e o futuro. Conversas com verdadeiros amigos são verdadeiros tratados da convivência humana.

Que diferente química havia no relacionamento de Pedro, Tiago e João com Jesus que os aproximava tanto? Quais são as diferenças básicas entre conhecidos, colegas e amigos?

Acho que não há resposta definitiva para essas questões. No final me parece que amizade é auto explicativa e enquanto esses adoráveis intrusos continuarem aparecendo em minha vida não será necessário resposta alguma.

Mesmo não seguindo o exemplo do meu melhor amigo, que bate a porta antes de entrar, que me perdoem alguns de vocês, mas vi a porta aberta e fui chegando depois Dele.

Um abraço.

terça-feira, 9 de março de 2010

Ele morre - final

Talvez o que você esteja esperando desse texto seja o final apoteótico da história, então das duas uma: ou você ficará contente (no mínimo satisfeito) com o final ou vai querer me encontrar na próxima esquina para termos um acerto de contas pelo seu tempo perdido. Paciência, finais são assim e eu assumo minha responsabilidade como autor da história.

O ponto é exatamente este. O final da história pertence ao seu autor e é ele quem o decide, queira você goste ou não, e se fosse diferente as histórias perderiam a sua essência, a sua graça, o seu encanto.

O que chama atenção nessa história que estou contando é que o personagem principal já sabia que ele morreria no final. A cena toda, o jeito e a forma da morte já estavam escritos pelo autor. A decisão de morrer pelos seus inimigos já havia sido tomada na eternidade e o personagem em total servidão ao autor seguiu o roteiro na íntegra.

Mas uma coisa é verdade, os bons autores dão vida aos seus personagens. Após criados e assumindo os seus papéis no desenrolar da história, os personagens começam a interagir com o autor e de alguma maneira começam a se responsabilizar pelas cenas seguintes como se o improviso fosse idéia deles (personagens) e não do autor.

Se é verdade que há um autor em nossa história também é bem verdade que com o passar do tempo assumimos a responsabilidade pelos nossos improvisos em cena. Eu podia chamar isso de livre-arbítrio mas alguns achariam muito formal e careta, então chamo de improviso humano.

Naquele momento da morte, o improviso humano Dele coincidiu com o roteiro do autor e esse fato mudou para sempre as histórias que seriam contadas no futuro. A partir daquele dia quando o nosso improviso (livre-arbítrio) coincide com o roteiro original do autor de nossas vidas o final é extendido até a eternidade.

Ele morre para que a nossa morte não seja o fim, só mais um capítulo.

Nunca pensei que ouviria uma história onde o herói morre no final (por vontade própria) e isso não causa tristeza e sim gratidão. E essa é, de longe, a melhor história que eu já ouvi.

Fim... ou não, só depende do seu improviso.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Nada de mal

Um dos nossos grandes problemas desde sempre é achar que não há nada de mal nas nossas mais perversas práticas. Temos o terrível costume de justificar ações com um simples “não há nada de mal nisso”.

Situação complicada e estúpida essa nossa, você não acha? Vivemos nos iludindo e tentando nos enganar. A maior parte de nossos pensamentos são como buscas de álibis, de desculpas que nos forneçam alívio a consciência. Damos um “google” em nossos pensamentos e o resultado da busca são milhares de páginas com o brilhante conteúdo “nada de mal”.

O “nada de mal” é ainda mais perverso na boca dos hipócritas. Nada de mal para mim que sou um santo, tudo de mal para você que deve caminhar sob o jugo da Lei nos seus mais pesados detalhes. Jugo que só pode ser mais pesado se for atado as costas dos outros.

Jesus bem sabia disso e em todas as suas conversas com Saduceus e Fariseus trazia isso a tona com seus argumentos. Para quem procura o caminho da justificação pelos seus atos Ele deixou a lição de que deveriam superar o modelo de vida destes hipócritas.

Se você é um usuário do “nada de mal” não queira encontrar o “tudo de mal” nas costas dos outros. E se você gosta de fardos pesados então também os carregue.

Espero que você não tenha achado “nada de mal” no que escrevi. E só para ficar registrado meus fardos eram pesados, eu não gostava deles. Até o dia que descobri que a cruz era o perfeito depósito de fardos. Minhas dores nas costas desapareceram e minha cerviz está amolecendo a cada dia, TUDO DE BOM.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Ele morre - parte 3


O ponto final de uma vida é sempre doloroso. Em especial quando falamos de heróis, de ícones, de referências. A morte de um piloto num domingo pela manhã. Uma princesa nos destroços de um carro num túnel. Cantores que insistem em não morrer no coração e mente de seus fãs mesmo quando overdoses dizem coisa diferente.

Se o coletivo geral torce para a morte dos maus, ele sangra e sofre com o final dos bons. Mas se o final é certeza para todos, então que o final dos bons seja deslumbrante. Que o guerreiro morra na batalha, que o cantor morra cantando, que o pacificador morra buscando a paz, que o bombeiro morra resgatando e que o guarda-costas se jogue na frente da bala. Já que é para morrer, que ela tenha algum sentido. Se não há como a evitar que sofram os maus e que se encham de glórias os heróis.

Mas o que fazer quando o herói morre em favor dos maus? Esse final é esquisito, estranho. Os créditos começam a subir e a gente fica com aquela cara de paisagem repassando o filme e tentando entender o que aconteceu.

Ele morre. Mas desse jeito???