sábado, 31 de dezembro de 2011

Melhor assim - Parte 2

- “Você vai gostar Isaura. Acredite em mim!”. Disse Lourdes, sua vizinha.
A muito tempo Isaura vivia em conflitos interiores. O casamento com Pedro não foi bem o conto de fadas que ela imaginava desde menina. O nascimento de Guilherme. Aquela pressão enorme de Pedro para que ela abortasse. A sua resistência e luta para que isto não acontecesse. Todo aquele tempo se preocupando em cuidar da casa e fazer com que o seu casamento melhorasse estava cobrando o seu preço.
Anos acumulando dores, sofrimentos, culpas e angústias produziram um fardo emocional e espiritual tão pesado que suas costas começaram a se curvar fisicamente. Aquela menina sonhadora e cheia de vida não existia mais e em seu lugar surgia uma mulher amargurada e sem esperanças. Cada dia era uma batalha travada por um exército de uma mulher só.
Lourdes era sua única amiga. Ela vivia de uma maneira totalmente diferente de Isaura. Embora muito mais velha, com filhos criados e casados, ela ainda mantinha um ar jovial e alegre. Raramente ficava em casa e sua vida era recheada de compromissos e propósitos. Um deles era mudar a vida de Isaura. Ela sabia como e nada ia a impedir de fazer com que aquela linda moça reencontrasse a esperança e a razão de viver.
Lourdes sabia como e aonde Isaura devia abandonar aquele fardo.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Melhor assim - Parte 1

Outra vez, tudo igual. De nada adiantaram as promessas, as juras de amor e de perdão. Lá estava Isaura, mais uma vez a sua mercê, debaixo de calúnias, palavras ríspidas, socos e pontapés. Pedro não se controlava, o ciúme doentio o tomava de uma forma avassaladora. Os pensamentos tomavam a sua mente e era impossível para ele acreditar não haver algum motivo a mais para Isaura dedicar tanto tempo naquele lugar, com aquelas pessoas. Além disso, ela tinha mudado, seu semblante era outro, suas palavras eram outras, ela até estava se arrumando melhor, suas atitudes em relação a ele também mudaram. E embora o tratamento dela com ele tivesse melhorado, para Pedro o incômodo, a dúvida e o ciúme aumentavam na mesma proporção. “Ela só pode estar fazendo isto porque me deve alguma coisa”, pensava consigo mesmo. O resultado de tantos pensamentos maus vinha à tona em forma de espancamento.

Mas desta vez Isaura não reagiu, sofreu calada todos os xingamentos, todos os palavrões, todo aquele calvário. Os tapas e socos com o sangue quente do momento não produziam dor física tão grande quanto a humilhação que ela sentia. Mesmo com Pedro em seu encalço ela correu para a porta do quarto e a fechou. Não queria que Guilherme acordasse e presenciasse aquela cena. Caso isto acontecesse a vergonha seria ainda maior. “Deus, não deixe que nosso filho veja isto.” era a oração que ela fazia em espírito.

Por mais que Pedro tentasse se controlar era como se alguém dissesse em seu ouvido: “Ela merece. Talvez apanhando ela aprenda”. Observando a inércia de Isaura, que sofria tudo calada – muito diferente das outras vezes em que ela também tentava agredi-lo – Pedro resolveu usar mais força. Agarrou-a pelo pescoço e a sufocou deitada na cama. Isaura então começou a se debater, agora temendo por sua vida. Em sua mente orava e tentava entender porque tamanha violência, afinal de contas, apesar das agressões anteriores naquele dia ele parecida mais irado do que nunca.

A ira de Pedro era tanta que a possibilidade de mata-la ali, naquele instante, passou por sua mente. Foi quando ele observou que o semblante de Isaura começou a mudar. Era como se ela olhasse para alguma coisa muito além do teto daquele quarto. Ela parou de se contorcer, parecia que o pânico e o medo tinham sido repentinamente tirados dela. Pedro se assustou com aquilo tudo. Afrouxou sua mão pensando que ela havia morrido mas logo percebeu que ela respirava calmamente.

Isaura permaneceu imóvel com os olhos fitos em algo que ele não conseguia enxergar. De repente, como num passe de mágica, num piscar de olhos, Isaura simplesmente desapareceu bem debaixo dele. Pedro deu um pulo para trás tremendo de medo e espanto. Com a respiração e o coração descontrolados começou a suar frio. Sua vista começou a se perder e ele pensou que ia desmaiar. Se apoiou no guarda roupas a ponto de quase colocar a porta já capenga abaixo.

Rapidamente tentou reordenar seus pensamentos e emoções no meio daquela confusão toda e imediatamente começou a procura-la pelo quarto. Olhou embaixo da cama, no vão entre o guarda roupas e a parede e no pequeno banheiro do lado esquerdo do quarto. Olhou atordoado para a porta e viu que ela estava fechada. “Como pode isso? Cadê você Isaura? Eu vou te achar sua vagabunda!”, disse aos berros.

O relógio em cima do criado mudo marcava 0:00.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Quem tem ouvidos ouça

“Ouça a sua vida.” O conselho é de Frederick Buechner, escritor e teólogo. Em 2011 essa foi a minha tarefa diária, meu compromisso comigo mesmo e com Deus. Passei um ano afinando os ouvidos do espírito e da alma, tentando descobrir a minha partitura numa música escrita a quatro mãos. Descobri que aprender a contar os anos de modo a alcançar um coração sábio não é lá tarefa fácil, mas é muito prazerosa.

Somos extremamente letrados em ouvir e perceber o mundo, a sociedade, as idas e vindas econômicas e políticas e o movimento das marés, porém, na maioria das vezes somos como surdos quando se trata de nos ouvir, ouvir a nossa vida.

Ouvir sua vida pode lhe mostrar o quão inteligente e ignorante você é e talvez por isso poucos se ocupem deste tipo de audição. Sabedoria e inteligência não são sinônimos e só ouvidos afinados com o passar dos anos podem sutilmente ir percebendo as nuances desta diferença.

Ouvi este ano de uma maneira nunca ouvida antes. Ouvi minha casa, ouvi minha família, ouvi meus amigos, ouvi minha igreja, ouvi meus irmãos, ouvi Deus. Conheci muita gente e ouvi sons afinados e desafinados vindo delas. Viajei geograficamente e espiritualmente com trilhas sonoras diversas que despertaram em mim os mais variados sentimentos e emoções.

Ouvi o som produzido pelos cristãos e pelos fariseus, pelos ricos e pelos pobres, pelos influentes e pelos influenciados, pelos jovens e pelos velhos, pelos adoradores e pelos religiosos, pelos loucos e pelos sãos, pelos amigos e pelos inimigos. Ouvi barulhos, rumores, suspiros, aclamações, reclamações. Ouvi gratidão, ingratidão, reconhecimento e fofocas. Ouvi.

E como foi bom ouvir isso tudo. Como é bom!

Te convido a ouvir! Te garanto que no meio de tantas vozes uma certamente vai sobressair. Quando seus ouvidos estiverem verdadeiramente aguçados você vai ouvir uma voz diferente. Uma voz mansa e suave no meio de toda essa bagunça sonora.

Quem tem ouvidos ouça!

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Paradoxo de Natal

O evangelho e seus paradoxos: Jesus não deixou nenhum preceito de memória ou celebração do seu nascimento, muito pelo contrário, os preceitos foram relativos a sua morte. Toda a graça e centro da mensagem cristã está na cruz e não na manjedoura.

A célebre frase “fazei isto em memória de mim” não foi dita numa festa de aniversário.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Grama do vizinho - Lutero

Ah! se Deus permitisse que a minha interpretação e a de todos os outros mestres desaparecessem, e que cada cristão pudesse chegar diretamente à Escritura apenas, e á pura palavra de Deus! Percebe-se já por essa tagarelice minha a incomensurável diferença entre a palavra de Deus e todas as palavras humanas, e como homem algum pode, com todas as suas palavras, adequadamente alcançar e explicar uma única palavra de Deus. Trata-se de uma palavra eterna e deve ser compreendida e meditada com uma mente silenciosa. Ninguém é capaz de compreendê-la a não ser a mente que a contempla em silêncio. Para qualquer um capaz de fazê-lo sem comentário ou interpretação, meus comentários e os de todos os outros não seriam apenas inúteis, mas um estorvo. Vão para a própria Bíblia, caros cristãos, e não permitam que as minhas exposições e as de outros estudiosos sejam mais do que uma ferramenta que capacite a edificar de forma eficaz, de modo que sejamos capazes de compreender, experimentar e habitar a simples e pura palavra de Deus; pois apenas Deus habita em Sião.

Martinho Lutero, Sermão de Natal, 1522.


quinta-feira, 4 de agosto de 2011

A porção de hoje é suficiente?

Vários personagens bíblicos me causam admiração, espanto, confusão e principalmente inspiração. Eliseu é um destes que me leva a vários pensamentos, raciocínios e exercícios de empatia.

Viver seguindo Elias devia ser algo fenomenal. Acompanhar seu ministério, suas ações a serviço de Deus e o seu caminhar cheio de aventuras, desventuras, controvérsias, indagações, traições, perigos, sucessos e amarguras deve ter sido uma escola de profeta e tanto. Ouvir falar de alguém e seus feitos é uma coisa, acompanha-lo de perto é outra bem diferente. O contar das histórias cria ícones que, por vezes, ficam descolados das figuras humanas, com uma impressão de super-herói ou algo do gênero. Se quem conta um conto aumenta um ponto quem reproduz histórias as torna monumentais.

Que Elias foi um ícone bíblico ninguém nega. Mas qual seriam os comentários a respeito do mestre feito pelo aluno, pelo seguidor, pelo aprendiz, pelo companheiro, será que poderia dizer pelo amigo? Acho que sim. Prova maior são estas palavras: “Vive o SENHOR, e vive a tua alma, que não te deixarei.”, só um verdadeiro e chato amigo poderia proferi-las. Ter referenciais é fundamental na vida de qualquer pessoa. De cristãos, em especial. Melhor ainda é ter referenciais e exemplos com os quais você possa caminhar junto diariamente.

Betel, Jericó e Jordão, um caminho final, uma estrada derradeira, o final de um tempo juntos, o final do aprendizado, o completar de um ciclo feito de lições práticas e diárias. No caminho avisos, provocações e gracejos... Seu senhor será tirado de você! Perdeu compadre! De agora em diante sua missão terminou. Não existira mais a quem seguir, não mais quem ajudar, não mais com quem aprender.

Aquele último trajeto foi decisivo na vida de Eliseu e meu exercício de empatia se fixa nos pensamentos a respeito do futuro: Se ele se for alguns talvez tenham em mim a continuidade do seu ministério; Será que aprendi como deveria? Será que sou capaz? Talvez mais algum tempo juntos? O final das coisas é sempre mais complicado que o início. Conseguir um moço para segui-lo era fácil, difícil agora é como se apartar dele. O meu exercício de empatia com Elias se foca na preocupação com a despedida. Acho que Elias, assim como a maioria de nós, não gostava dela. “Fica-te aqui, porque o Senhor me enviou...” para cá, para lá e para acolá!... Melhor terminar com isso rapidamente, sem choro, sem despedidas, sem mais faça assim ou faça assado. Leio e enxergo um coração triste em Elias. Triste com a despedida de Eliseu.

Um rio, um capa dobrada, águas feridas e uma estrada a seco em sua frente. Como se não bastasse a preocupação sobre o futuro do ministério de profeta mais uma prova do poder de Deus sobre a vida do mestre deixa o aluno estupefato.

Sempre que idealizo Elias imagino, não sei por que, um sujeito sisudo. Mas num momento em específico me vejo enxergando um ar nunca antes visto na fisionomia de Elias. “Serei tomado de Ti Eliseu!”. Essa não é a frase expressa na bíblia mas gosto de parafrasear. “Pede-me o que queres que te faça, antes que seja tomado de ti.” Essa é a frase original. Se fosse um filme, a trilha sonora desse momento seria calma, tranquila, com muitas cordas e um close no olhar de Elias. Um momento sublime onde o mestre realiza um último pedido do aprendiz, um presente a lealdade, uma dádiva de despedida ao mais que aluno, ao amigo. Imagino que Elias não era assim tão bom – também como a maioria de nós – em expressar seus sentimentos e ali tentava usar uma linguagem de amor um pouco diferente, do jeito dele.

A câmera lentamente se move em direção ao rosto de Eliseu e lá encontra um homem surpreso com aquelas palavras. Acredito que ele não esperava essa atitude de Elias, não fazia o tipo dele. Naquele exato momento imagino o espírito de Eliseu em busca do pedido perfeito, do pedido de coroaria todos os momentos que viveram juntos, algo que conseguisse unir o passado e o futuro no presente que a partir daquele instante seria só dele, Eliseu.

Pois bem, mesmo a bíblia não nos dando noção de tempo entre uma frase e outra, acredito que aquele momento não demorou tanto assim. A resposta surge auxiliada por outro espírito que não apenas o Dele. “Peço-te que haja porção dobrada de teu espírito sobre mim.” Quem teria pensado em pedido melhor? Nem Elias imaginava isso, haja vista sua resposta: “Coisa difícil pediste;”. Talvez o pensamento de Elias tenha sido: atrevido não? Seguido desse pensamento deve ter vindo a felicidade pelo pedido, afinal de contas, que professor não ficaria feliz com um pedido de um aluno como este? Só os orgulhosos.

Elias sabia, contudo, que a resposta do pedido não dependia apenas dele. O Espírito que o movia vinha dos céus. “Só se me vires quando for tomado de ti, então se fará.”. Ponto, seguem o caminho, andando e falando quando de repente: um carro de fogo, com cavalos de fogo os separam.

Disse Eliseu: “Meu pai, meu pai, carros de Israel e seus cavaleiros!”. Capa na mão e novamente um rio a frente. “Onde está o SENHOR DEUS de Elias?” e novamente uma estrada a seco em sua frente.

Pedido atendido. Porção dobrada concedida.

Imagino os líderes "cristãos" da atualidade se dirigindo aos jovens, as novas gerações e lhes perguntando o querem que lhes seja dado antes de partirem. Quais seriam os pedidos? Tenho receio deles. Porção dobrada do que dizem possuir seria suficiente para que seus seguidores espelhassem o exemplo de Elias na terra?

Vejo jovens andando com a água no pescoço porque não encontram líderes que possam lhes transmitir uma porção do espírito capaz de fazer um riacho se abrir a sua frente.

A porção do que hoje pregam, ensinam e vivem não é suficiente! E o SENHOR DEUS de Elias não é deus deles.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

A verdadeira marca que carregamos

Ontem mesmo estava pensando qual será a minha próxima vitória, qual o próximo milagre que preciso para minha vida, qual a próxima benção para que o maravilhoso mar de rosas prometido por Jesus aos seus seguidores chegue a minha existência terrena.

O mundo está mudando a olhos vistos e nada mais justo que mudemos com ele. Nada mais sensato e atual que ajustar nossas velas e navegarmos no belo e esperançoso oceano da prosperidade, da riqueza, do novo Brasil e do novo mundo. Nunca foi tão fácil pregar. Não somos mais perseguidos ou chamados de conspiradores da ordem Romana. Agora somos cults e descolados. Vivemos vidas abastadas e cheias de testemunhos de casas novas e carros zero quilômetro.

Nossos encontros não são mais feitos em catacumbas ou escondidos da polícia ou do exército. Multidões se reúnem em locais públicos a espera do reconhecimento televisivo no jornal da noite ou no programa semanal de domingo. Nossos eventos, cercados de pompa e circunstância, atraem as autoridades e os formadores de opinião da nossa rica sociedade. Estar perto de nós significa reverência e respeito ao espiritual.

O “povinho” de ontem são os abençoados de hoje e aqueles que vão ganhar a nação no futuro. Como dizem alguns logo, logo elegeremos o próximo presidente e então seremos imbatíveis. Nem um estado laico poderá nos segurar. Converteremos todos e todos serão abençoados, receberão seus milagres e bênçãos e então seremos todos felizes e prósperos.

Ser crente nunca foi tão fácil. Se você conversar com sua mãe, pai, avô ou avó verá que as coisas mudaram. E não se trata de uma mudança pontual, são séculos de mudanças e transformações. Assim como a sociedade mudou os crentes também mudaram e vão seguir mudando.

Mas se a cada dia que passa está mais fácil ser crente o inverso se mostra verdadeiro quando falamos em ser Cristão. Se no passado os valores, a moral, os costumes e os hábitos cristãos eram muito bem aceitos pela sociedade o presente se mostra totalmente diferente.

O filho de Deus aos poucos vai se transformando no maior pensador, executivo, educador, líder, psicólogo, alma iluminada, espírito de luz, guia, guru, etc. Manipulam suas verdades e ensinamentos mais simples e básicos em arcabouços supostamente teológicos para que as boas novas sejam boas e novas para todos os públicos. Para que atendam a todos os gostos, opiniões, grupos, raças, tribos, ambições e desejos.

Para que carregar uma cruz se posso pagar para que alguém faça isso por mim. Para que dar a outra face se a segurança e conforto da minha vida me mantem longe dos baderneiros e briguentos. Para que dar emprestado sem esperar ter o montante de volta se os bancos e financeiras fazem isso sem que ninguém precise sair de casa. Para que comunhão com outras pessoas se posso assistir ao culto no conforto de minha poltrona pela internet ou pela TV. Para que ser pobre se posso ser o mais rico e próspero de todos os homens. Mais fácil e justo é pensar e orar a respeito da minha próxima benção.

Se bem aventurado é o sinônimo bíblico para felicidade concluo que vivo num mundo cheio de crentes infelizes. O progresso e o consumismo diminuirão o número de pobres, quebrantados, mansos, famintos, misericordiosos, limpos de coração, pacificadores e perseguidos. O futuro não será um local bom para verdadeiros cristãos. Seremos infelizes sob a ótica social e imorais segundo os padrões e valores da pós-modernidade. Talvez seja essa a marca tão aguardada pelo reino do anticristo, talvez seja essa a marca que nos tornará diferentes.

No futuro a história do Deus que deixou o esplendor de sua glória, seu reino de majestade e poder, suas legiões de anjos adoradores e sua natureza atemporal para se fazer menino, pobre, passar fome, sede, frio, ser traído, preso, torturado e assassinado não será uma história digna de ser contada as crianças porque será a antítese do sucesso e da prosperidade. Afinal de contas quem em sã consciência optaria por uma história dessas? A humanidade caminha em outra direção.

No futuro não será necessário nenhuma tatuagem, código de barras ou chip para identificar um de nós. O sangue da vítima que planejou seu próprio assassinato brilhará nos pobres, quebrantados, mansos, famintos, misericordiosos, limpos de coração, pacificadores e – se Deus quiser – “perseguidos”.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Um Deus presente

Estou de saco cheio dos mesmos comentários após as tragédias que, infelizmente, a cada dia que passa se tornam mais frequentes. Comentários a respeito de um Deus ausente insistem em surgir a cada ato de terror cometido por um ser humano.

Como dizia Axl Rose: “Welcome to the jungle”... isso mesmo, bem vindo a selva. Ano após ano, era após era, o mundo vai adentrando a selva do orgulho, da vaidade, do isolamento mesquinho no mundo dos nossos próprios umbigos. Uma falsa moralidade travestida de preocupação com o semelhante, um choro hipócrita sobre as mazelas humanas e um olhar besta e sem conhecimento sobre o que acreditam ser espiritualidade e atuação divina na terra.

Faz falta a leitura bíblica e um real desejo pela busca do Divino antes de tecer comentários dessa natureza. Faz falta olhar para si mesmo e entender que a criação foi dotada de moral e oportunidade de escolha. Faz falta entender que valores são deteriorados com a nossa permissão geração após geração. Faz falta entender que as tecnologias que nós próprios criamos, as vezes, mais nos afastam do que nos aproximam. Faz falta entender que nem tudo são maravilhas no mundo capitalista do consumo e da exclusão social. Faz falta enxergar que o bem que só é feito no seu círculo íntimo de amizades nem sempre é suficiente para se caracterizar como “bem”, até os bandidos fazem isso. Faz falta a correta aplicação do perdão pois a quem diga que ele é sinal de orgulho, isso mesmo, já ouvi formadores de opinião dizendo que o verdadeiro perdão não existe mas que é um sinal de orgulho, que a pessoa que decide perdoar está no fundo querendo se colocar acima das demais.

Talvez em algumas cabeças o melhor teria sido sermos criados como robôs ou fantoches, isso nos livraria do peso das nossas decisões e nos tiraria a responsabilidade pelos nossos atos. Também não seria necessário seguir mandamentos, regras ou muito mesmo valores. Tudo isso já viria previamente instalado como software direto da fábrica.

Passamos a vida correndo atrás do metal, lutando para nos tornarmos reis e rainhas e escondemos Deus tão longe de nossas vidas que quando necessário não sabemos mais onde Ele está. Nem nos damos conta de que o Rei dos reis preferiu abandonar sua glória e virar criança pobre.

Passamos a vida desejando crescer e esquecemos que só as crianças sabem onde Ele está e só elas vão entrar no céu.

Hoje sinto muito mais rumores de um outro mundo na terra do que antes. Sinais de que Deus nunca esteve tão presente em nosso meio como agora. Só não enxerga quem não quer ou que prefere não ver.

Se você acha loucura minha pensar que Deus está presente em tudo o que acontece por aqui, paciência, você está lendo o texto de um cara pirado, maluco. Se eu te falar que Ele já havia dito que tudo isso iria acontecer, então, mande me internar num hospício.

Mas, se o conheço bem, sei que Ele também chorou e ainda chora por nossa causa. E esse choro significa que ainda existe esperança e salvação. Quem crê na ausência de Deus nunca o conheceu verdadeiramente.

quarta-feira, 2 de março de 2011

It's free and always will be


Então surge um homem, bem diferente dos demais. Um homem que falava de algo novo, de boas novas. Falava de um reino que não seria construído por mãos humanas, de um reino que não seria representado por palácios e riquezas. De um reino onde o último seria o primeiro, onde os que servem seriam os maiores e onde só os fracos seriam fortes.

E o melhor de tudo: um reino entregue de graça.

Anos e anos se passam e o slogan que deveria ser do evangelho é o marco de uma revolução digital expressa no Facebook: "it's free and always will be".

Zuckerberg e outros tantos seguem ganhando muito dinheiro vendendo aquilo que é de graça.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Um espólio disponível

Hoje é um dia triste para mim e tenho certeza para muitas pessoas no Brasil e no mundo. Eu que sempre me ressenti pelo fato dos maiores ícones mundiais do Cristianismo não serem necessariamente evangélicos (muito menos pentecostais), sou testemunha ocular da história, da vida e da morte de um verdadeiro cristão que deixa um grande espólio disponível.

Sou parte de uma família e igreja que sempre deixou legados a suas gerações. Uma família de homens de mulheres que sempre tiveram no reino de Deus a sua prioridade. Cresci e me formei debaixo de princípios cristãos verdadeiros. Embora relutante em algumas fases da vida, nunca duvidei dos ensinamentos das minhas antigas gerações de pais e mestres. Vi, ouvi e senti na pele o efeito nocivo da má interpretação e aplicação do que seria este dito "reino de Deus na terra". Ainda me chateia me ver confundido e colocado no mesmo balaio de homens maus, da banda podre das igrejas no Brasil. Isso mesmo que eu disse, "banda podre das igrejas". Se você não gostou da palavra acredite que ela é muito menos chocante do que as usadas pelo próprio Jesus para conceituar este tipo de gente - maiores dúvidas consultar Mateus 23. Me sinto mais ou menos como o bom policial que deixa sua casa, mulher e filhos e depois de um tiroteio com marginais ouve no ônibus de volta para casa que a polícia brasileira é corrupta e não presta. Ahhh... o velho pecado da generalização, como isso machuca.

Generalizações a parte, profissionalmente aprendi que o melhor líder é aquele que lidera pelo exemplo. Vi muito pouco disto nas organizações empresariais e tenho poucos referenciais dignos de nota. E por mais incrível que possa parecer, as igrejas não são diferentes, afinal de contas, o ser humano padece das mesmas tentações em qualquer instituição. Dinheiro, poder e fama ainda são as armas preferidas de nosso inimigo.

Mas por outro lado, em qualquer um destes ambientes, exemplos dignos de honra continuam permeando nossa existência. Ainda existem homens (e se Deus quiser ainda continuarão a existir) que servem de modelo e exemplo para todas as gerações. E eles, por força natural do seu caráter, criam, desenvolvem, progridem, enriquecem, crescem e empreendem. Ao redor deles transitam várias pessoas, algumas delas interessadas em quem eles são e outras no que eles podem render. Sempre foi assim e assim vai continuar sendo, mais ou menos como foi com Jesus, da multidão ao redor apenas poucos estavam lá por quem Ele era.

Do homem da foto, Pastor José Pimentel de Carvalho, que faleceu hoje, aprendi várias lições mesmo nunca tendo estado tão perto a ponto de tocá-lo. Hoje o meu ressentimento dito no início diminui bastante, ou seja, verdadeiros exemplos de cristianismo podem surgir em nosso meio, isso mesmo, no meio da igreja, por mais paradoxo que possa parecer. Aprendi a não me incomodar tanto com as generalizações, uma vez que os verdadeiros cristãos preferem trabalhar no silêncio e longe das multidões, seu crachá é sua vida. Ratifiquei mais uma vez a tese que liderança se faz pelo exemplo e que o mentorado das novas gerações é feito, mesmo a distância, pelo legado que deixamos quando nossos dias terminam. E aprendi, principalmente, que grandes homens deixam espólios.

Para as pessoas que estavam ao seu redor pelo que ele poderia render o espólio será finito. Mas dou graças a Deus porque para mim e para outros tantos o espólio espiritual deste homem de Deus é infinito e disponível a todos quantos desejarem dele tomar.

Muito obrigado Pastor. Espero vê-lo de novo.

Minhas sinceras condolências a toda família Pimentel de Carvalho.



quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Sobre piás, velhos, bem e mal

Apesar de todas as minhas tentativas (frustradas) de parecer mais jovem minha barriga e os meus poucos cabelos me fazem atentar para a verdade nua e crua, esta minha fase se foi.

Me lembro de algumas conversas que tive com meu irmão onde dizíamos e prometíamos um ao outro que não envelheceríamos. Pois bem, ele cumpriu a promessa e não envelheceu. Faleceu aos 33 anos sendo o cara mais boa praça que eu já conheci. Carregando consigo todos os adjetivos possíveis a imagináveis que uma pessoa pode ter. E entre todos eles, para mim, o que mais o definia era simplesmente "um piá do bem".

Ser um cara do bem parece significar pouco e muito ao mesmo tempo. Enquanto tantos adotam o lado da maldade como regra de vida ainda existem aqueles que não se curvam diante dela. No meu irmão ser um cara do bem soava mais simples e descomplicado, um cara gente boa capaz de amontoar os tijolos no fundo da casa e improvisar uma churrasqueira onde amigos podiam estar reunidos e conversas serem jogadas fora.

Não sei se você já reparou, mas dá impressão que carregamos algum dispositivo de série que nos mostra de alguma maneira a que turma o cara (ou a cara) pertence, "do bem" ou "do mal". Também parece que quanto mais o tempo passa mais difícil fazer o cidadão mudar de lado. Parece que a juventude tem um fator preponderante nas definições futuras do lado que você vai escolher. Minha preocupação é justamente esta, o grande número de jovens escolhendo o lado da maldade, os "piás do mal".

Se há uma coisa que me entristece é ver pessoas tão novas já com ares de "caras do mal". Parece que esta mistura não combina, juventude e maldade não foram feitas para andarem juntas. Parece soar mais familiar dizer um "homem do mal" do que um "piá do mal". Mas o mal é uma doença que tem nos jovens seu grupo de risco. Não adoecer no espírito ainda fresco da juventude pode ser a definição de um destino.

É importante deixar claro que esta doença não tem nada com sexo ou drogas (muito menos rock'n roll), isso sempre existiu no meio de jovens do bem ou do mal. A proliferação dessa doença é muito maior que isto. A maldade que fica estampada é aquela que faz com que o cara chute o bêbado caído no chão enquanto o correto seria levá-lo até sua casa. A maldade clara é aquela que espanca o morador de rua ao invés de lhe oferecer um cobertor. De novo, a questão não é o álcool ou as drogas, a maldade verdadeira é maior que todas as drogas juntas. É mais fácil recuperar um drogado do que tirar a maldade do coração de um jovem.

O Renato tinha razão, cada vez menos os "santos" tem a exata noção da medida da maldade e os jovens continuam adoecendo, cada dia mais, cada dia em maiores quantidades, cada dia com atos mais violentos, cada dia com mais naturalidade, cada dia mais impunes, cada dia mais achando que o certo é errado e o errado é certo.

Se for para envelhecerem assim que se curem antes e só então se tornem homens.

Se meu irmão ainda fosse vivo eu lhe diria: "Mudei de idéia mano, pode envelhecer tranquilo, piás do bem como você serão sempre velhos homens jovens"... saudade.

A maldade envelhece mas a bondade nos faz como crianças.


Nota aos de fora: piá = menino, moleque, guri.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Eles não sabem o que fazem

O primeiro clamor de Jesus na cruz foi o maior exemplo de inclusão e expressão de graça que a humanidade já presenciou. Como o maior advogado da eternidade ele utilizou a ignorância como motivo de perdão a um bando de homens maus, sedentos de ódio e ansiosos por agressão, tortura e morte.

Se hoje fossemos colocar em perspectiva todos os pecados existentes acredito que seria difícil encontrar alguém que pudesse ser defendido com a justificativa da ignorância.

A informação e o conhecimento fazem isso. A cada dia que passa fica mais difícil para mim e para você nos apoiarmos no simples "eu não sabia" para justificar nossos pecados. A cada novo amanhecer da história ficará mais difícil para reinos e governos se desculparem de atos de preconceito e morte com base nas premissas de falta de conhecimento. Quanto mais o sol se levantar menores as chances de dizermos que tudo acontecia bem debaixo de nossos narizes e que não tínhamos a mínima noção do que estava acontecendo e dos rumos que a sociedade tomava.

Quanto mais a verdade expressa nas palavras de Cristo forem lidas, estudadas e proferidas menores as chances dos homens maus se apoiarem na ignorância ou na intrepretação errônea para se livrarem da justiça divina.

Quanto mais o tempo passa, quanto mais distantes da cruz e mais próximos do futuro nos encontrarmos menor será o efeito do perdão pela ignorância. A proximidade da justiça faz com que a luz da verdade seja mais forte e próxima e com ela a escuridão se vai e tudo fica as claras.

Mais difícil será provar que não sabíamos o que era bem ou mal, puro ou impuro, decente ou indecente, honesto ou desonesto, certo ou errado. O que pega mesmo é a nossa cara de pau de sempre, ainda nos achamos inseridos no perdão da ignorância sem nos dar conta de que cada passo em direção a verdade diminui o efeito das nossas desculpas esfarrapadas.

Quando todas as informações estão a sua mão, quando todos os mapas são conhecidos e todos os caminhos já foram percorridos mais fácil decidir a sua direção, o seu alvo, o seu fim.

Depois que tudo tiver sido dito e feito, só o amor restará e quando o encontrarmos face a face o álibi da ignorância não valerá mais nada.