segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Qualquer semelhança - parte 4

Enquanto Teresa terminava de passar um pano úmido no chão Erivelton orava ajoelhado num canto do salão. Pedrinho dedilhava notas soltas no violão do pai enquanto Ana olhava para o irmão com ar de reprovação.

Perto das 19hs Erivelton se levanta e se coloca a porta do salão para cumprimentar os primeiros a chegar e lá fica até que Ana inicia os cânticos. Sem se importar muito com concordâncias, sujeitos e o correto tempo dos verbos a ministração gira em torno da felicidade de estar ali mais uma vez.

Mesmo sabendo o que aconteceria na sequência, como se a programação já tivesse enraizada em sua mente desde muito tempo, a impressão é que as palavras tinham novas conotações e intenções a cada novo momento daquela noite.

Entre resmungos e choramingos de algumas crianças Erivelton toma a palavra. Ele abre o livro e lê uma passagem tão conhecida que mal precisava olhar o texto para se recordar de todas as palavras nos mínimos detalhes. Poucos participantes tinham o livro em suas mãos mas tentavam compreender as palavras ditas por Erivelton. Na maioria das vezes elas eram como poesia para a alma. Daquele tipo que faz cócegas no entendimento dos iletrados e analfabetos.

Mesmo tendo comentado o mesmo texto várias vezes, momentos como aquele ainda causavam temor e ansiedade em Erivelton e mesmo falando a um público pequeno e sem muita cultura suas pernas insistiam em tremer. No rosto dos participantes o que se via era um misto de expectativa e conforto como se algo os tomasse nos braços.

Teresa ouve seu marido de olhos fechados e tira um lenço do bolso para enxugar algumas lágrimas. Em seus pensamentos pergunta a si mesma: “Porque será que eu choro toda vez?”.

Compenetrada em seu espírito não percebe que outros começam a experimentar o mesmo mover e que as lágrimas já não são mais exlcusividade sua.

Parecia haver mais alguém naquele lugar mas ninguém conseguia vê-lo.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Qualquer semelhança - parte 3

O evento começou e o que se via era uma multidão tentando chegar mais perto. Um lugar para se sentar parecia impossível mas ela seguiu com determinação, porém, o máximo que conseguiu foi um espaço no corredor lateral onde ficaria em pé por algumas horas.

O tempo passava rapidamente e ele ainda não estava lá. O que pairava no ar era uma ansiedade e uma expectativa coletiva para o momento de então poderem vê-lo.

De repente abre-se um corredor em meio multidão e com o auxílio do pessoal da recepção ele consegue chegar ao palco do evento.

As atenções foram tomadas e a partir daquele momento nada mais do que se falava parecia ter lugar na memória das pessoas. Toda a programação prévia parecia ter uma função meramente introdutória, sem a preocupação de fazer sentido uma vez que o ápice do evento girava em torno dele.

Júnior acompanhava tudo do lado de fora pois só encontrou um lugar para estacionar o carro muito longe dali e quando chegou não havia mais como entrar. Silvia não notou sua falta e ainda estava chateada por não ter conseguido um lugar para se sentar.

Quando ele tomou a palavra e iniciou seu discurso o silêncio tomou conta da multidão tal era a curiosidade acerca de suas palavras. Nem tudo o que ele dizia parecia fazer sentido mas a sua eloquência - fruto de muita experiência em eventos como aquele - era formidável e tudo era tão novo e arrebatador que um misto de dúvidas e aprendizados enchia os ouvidos e corações.

Silvia acompanhava atenta a cada palavra enquanto outros timidamente começavam a tirar fotos dele.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Grama do vizinho - Vou me lembrar

Lembre-se de quem bebeu do fel amargo de uma taça
Que ainda existe quem torça pra assistir uma desgraça
E dos fariseus, que engordam com aquilo que é nosso
E dos mercenários que cobram pra nos dar o que é de graça

Lembre-se de quem gera das entranhas o Seu povo
Que valemos mais do que o mundo inteiro com o seu ouro
Que aquele sacrifício, é vivo e permanece sobre todos nós para sempre

Lembrem-se do pão que nunca nos faltou em meio à seca
De quem multiplicou e faz com que nenhum dos Seus se perca
Que nunca foi alguém de carne e osso que nos fez mais nobres
Que não há mais ninguém melhor do que
Alguém que se fez pobre

Lembre-se de quem nos deu o próprio sangue como um selo
Que homens vão e vêm mais Ele permanece eternamente
Que Aquele que desceu, é o mesmo que subiu e que nos levará para sempre

Eu vou me lembrar, de não me esquecer
De tudo o que eu fiz
E sempre acreditar que o que me faltar
Deus já me deu
E pelo que eu vivi
Sempre glorificá-Lo

Eu vou me lembrar que mesmo assim
Eu nada sou
E sempre acreditar que
Quando eu morrer
Eu vou viver
E, sem parar
Pra sempre glorificar o meu Deus

Banda Resgate
CD Ainda não é o último

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Qualquer semelhança - parte 2

Longe dali, um pouco mais cedo, Erivelton e Teresa saem de casa a pé. Pedrinho e Ana acompanham os pais de longe enquanto brincam com as pedras que apanham na rua de chão batido.

- “Querida, quer que eu leve esse balde para você?”

- “Não amor, não se preocupe. Não está pesado”.

- “Uma chuva caía bem, não acha? Nesse verão a poeira aumenta quando os carros passam e o salão fica muito sujo”.

- “Também acho. O problema é que se chover o pessoal não aparece”.

A rotina era a mesma de sempre: chegar um pouco mais cedo, limpar o chão, arrumar as cadeiras e tirar o pó das janelas. Mas isso não os incomodava. Aquela noite seria como todas as outras e Ele estaria lá.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Qualquer semelhança - parte 1

Naquela tarde tudo parecia mais corrido do que costumava ser.

- “Corra senão vamos nos atrasar” dizia ele, fazendo com que ela tropeça-se entre as roupas e perdesse o secador de cabelos entre o caminho do quarto até o banheiro.

- “Se não chegarmos cedo não conseguimos um bom lugar. E você sabe que hoje vai estar lotado. Afinal de contas a divulgação foi grande e vem gente de todo lugar para vê-lo”.

- “Já sei, já sei... por favor tenha paciência. Eu preciso estar muito bem arrumada hoje.Porque você não se adianta e já tira o carro da garagem?”

Saíram apressados tentando descobrir um caminho sem muito trânsito. No carro a discussão continuou com acusações mútuas pelo atraso.

- “Já estou vendo tudo. Não vamos conseguir estacionar perto. Vamos ter que andar e vamos nos atrasar mais ainda”.

- “Problema seu. Me deixe na porta para que eu consiga um bom lugar. Depois você estaciona.”

O início da noite chegou e o evento era aguardado a muito tempo. Aquela noite seria diferente das outras. Afinal de contas ele estaria lá.