segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Vida de gado


Eh, ôô, vida de gado
Povo marcado, ê
Povo feliz!

Não acredito que o Zé Ramalho tenha tendência para profeta ou coisa do gênero mas que essa música diz muito, isso sim. E o rebanho não para de crescer.

Não é novidade que a falta de conhecimento é a parideira ideal deste gado. Ano após ano, século após século, milênio após milênio a regra é a mesma e a máxima romana do “pão e circo” segue inabalável.

Seja para questões corriqueiras, políticas, tratados econômicos, teologia ou cristianismo o povo sempre paga um preço alto pela falta de conhecimento. Como não tenho pretensões políticas, econômicas ou teológicas me arrisco a analisar o fenômeno pelo lado cristão.

Não posso crer (baseado nas escrituras) que Cristo tenha vindo até a terra para se relacionar com seres irracionais, muito pelo contrário, a nossa criação bela e moral foi feita como semelhança Dele(s). Somos dotados de uma série de inteligências e acima de tudo temos o dom da abstração e da imaginação. Com todos estes atributos fomos colocados acima do resto da criação e com a incumbência da mordomia, ou seja, não está na nossa lista de atividades cá debaixo do céu uma vida parecida com a vida dos nossos amáveis bovinos.

Porém, a situação não mudou muito desde a ascensão de Cristo, muito pelo contrário, piorou bastante. Hoje vivemos na era da informação e uma vez que informação não é, por si só, conhecimento e muito menos sabedoria, a suposta pretensão de achar que sabemos e conhecemos tudo produz o que eu chamaria de “gado pós-moderno”.

Aos poucos os hábitos de estudo e leitura são suplantados por rápidas passadas de olhos em algum texto ou apresentação de power point. Discussões e conversas em grupos trocados pelo encaminhamento de emails que fulano ou ciclano me enviou e que eu não sei bem do se trata mas acho que faz sentido. Comida só aquela servida na boca e que atenda aos paladares refinados dos seguidores das teologias da prosperidade e da confissão positiva.

O maior problema de todos é que no meio de tantas vozes desconexas e sem sentido corremos o risco de não identificarmos mais a doce voz do nosso pastor. De mestre só nos convém chamar Um, que depois de subir nos enviou Aquele cuja atribuição seria nos instruir, nos ensinar, nos fazer enxergar a verdade num mundo de mentiras e enganações. Uma pena não contarmos com Ele para transformar nossas informações em conhecimento e em sabedoria. Na verdade um desperdício.

A alguns dias atrás falei a um grupo de pessoas sobre a necessidade urgente de voltarmos a ser ovelhas. Porque só elas sabem identificar com exatidão a voz do pastor.

Ovelha sim, gado pós-moderno não. A marca que eu carrego não foi feita com ferro quente.



sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Qualquer semelhança - final

Palavras que pareciam sementes lançadas aos corações. Erivelton dizia cada uma delas com paciência, sem pressa, embora cada uma delas fosse acompanhada por orações em espírito para que alcançassem o fim a que se propunham.

Ninguém naquele pequeno salão parecia imune ao que estava ouvindo. Era como se as palavras de Erivelton viessem acompanhadas de algo mais, algo espiritual além da simples percepção humana e de simples emoções.

Com o livro em punho, Erivelton faz um convite. Um convite que mudaria suas vidas por completo. Um convite precedido de uma decisão e ninguém que o aceitasse passaria incólume por aquele momento.

Era impossível não se sentir tocado pelo simples fato de entender o que aquilo significava. O silêncio tomou conta do local e Erivelton fez questão de deixar que assim ficasse. Parece que ele ouvia alguém mais falar além dele, com um tipo de voz que não se pode ouvir com os ouvidos.

De repente, no meio daquelas poucas pessoas, uma mão se levanta. Um homem de meia idade, aparência sofrida como se carregasse um fardo pesado em suas costas. Com algumas lágrimas lhe molhando a face caminha pelo corredor e Erivelton lhe recebe com um abraço apertado.

Com aquele ato tinha plena consciência de que seus problemas estavam apenas começando. A partir de agora ele era um cristão. Mas isso não o incomodava pois mesmo sem vê-Lo estava certo que daquele momento em diante Ele estaria junto dele todos os dias, até a consumação dos séculos.


NOTA
O blog Fora do Sistema esclarece: Este é um texto de pura ficção. Qualquer semelhança com fatos ou pessoas é mera coincidência.



quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Qualquer semelhança - parte 5

As palavras saíam como rajadas de encontro aos ouvidos da multidão. O som alto e o brilho das luzes completavam a atmosfera daquele lugar super lotado. Era se como tudo fosse possível, sem reservas, sem sofrimentos. Tudo ao alcance da sua vontade, dos seus desejos ou como ele dizia, “dos seus sonhos”.

Silvia se lembrou das dificuldades e adversidades que vinha atravessando junto com Junior e teve absoluta certeza que a mensagem era direcionada para ela. O final apoteótico chegou e Silvia rapidamente se dirigiu para frente do palco. Com ela outros tantos que tiveram o mesmo sentimento e que apressadamente corriam em busca dos primeiros lugares. A música envolvente, o barulho quase ensurdecedor e joelhos que começavam a se dobrar na expectativa de uma benção especial daquele homem. Tudo ali, palpável e a alguns passos de distância.

O fim chegou e com ele a confusão para sair do local. Um preço pequeno a ser pago diante de tudo o que havia acontecido até ali. Silvia pensou em ir até ele para conseguir uma foto ao seu lado mas desistiu depois de ver tantas pessoas a sua frente.

Após muito empurra empurra chegou até a saída convicta de que as coisas mudariam e de que seus problemas tinham dias contados. Ao encontrar Junior ela diz:

- "Eu te disse que não podíamos perder esta noite por nada, ele é incrível!"

Aquilo deixou Junior ainda mais chateado por não ter conseguido entrar e muito menos estar perto dele.

Silvia voltou para casa comentando tudo o que tinha visto e ouvido do lado de dentro, enquanto Junior se perguntava se no ano seguinte ele seria novamente convidado para estar com eles; mesmo que sim, um ano seria uma eternidade sem a solução dos seus problemas.