quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Um espólio disponível

Hoje é um dia triste para mim e tenho certeza para muitas pessoas no Brasil e no mundo. Eu que sempre me ressenti pelo fato dos maiores ícones mundiais do Cristianismo não serem necessariamente evangélicos (muito menos pentecostais), sou testemunha ocular da história, da vida e da morte de um verdadeiro cristão que deixa um grande espólio disponível.

Sou parte de uma família e igreja que sempre deixou legados a suas gerações. Uma família de homens de mulheres que sempre tiveram no reino de Deus a sua prioridade. Cresci e me formei debaixo de princípios cristãos verdadeiros. Embora relutante em algumas fases da vida, nunca duvidei dos ensinamentos das minhas antigas gerações de pais e mestres. Vi, ouvi e senti na pele o efeito nocivo da má interpretação e aplicação do que seria este dito "reino de Deus na terra". Ainda me chateia me ver confundido e colocado no mesmo balaio de homens maus, da banda podre das igrejas no Brasil. Isso mesmo que eu disse, "banda podre das igrejas". Se você não gostou da palavra acredite que ela é muito menos chocante do que as usadas pelo próprio Jesus para conceituar este tipo de gente - maiores dúvidas consultar Mateus 23. Me sinto mais ou menos como o bom policial que deixa sua casa, mulher e filhos e depois de um tiroteio com marginais ouve no ônibus de volta para casa que a polícia brasileira é corrupta e não presta. Ahhh... o velho pecado da generalização, como isso machuca.

Generalizações a parte, profissionalmente aprendi que o melhor líder é aquele que lidera pelo exemplo. Vi muito pouco disto nas organizações empresariais e tenho poucos referenciais dignos de nota. E por mais incrível que possa parecer, as igrejas não são diferentes, afinal de contas, o ser humano padece das mesmas tentações em qualquer instituição. Dinheiro, poder e fama ainda são as armas preferidas de nosso inimigo.

Mas por outro lado, em qualquer um destes ambientes, exemplos dignos de honra continuam permeando nossa existência. Ainda existem homens (e se Deus quiser ainda continuarão a existir) que servem de modelo e exemplo para todas as gerações. E eles, por força natural do seu caráter, criam, desenvolvem, progridem, enriquecem, crescem e empreendem. Ao redor deles transitam várias pessoas, algumas delas interessadas em quem eles são e outras no que eles podem render. Sempre foi assim e assim vai continuar sendo, mais ou menos como foi com Jesus, da multidão ao redor apenas poucos estavam lá por quem Ele era.

Do homem da foto, Pastor José Pimentel de Carvalho, que faleceu hoje, aprendi várias lições mesmo nunca tendo estado tão perto a ponto de tocá-lo. Hoje o meu ressentimento dito no início diminui bastante, ou seja, verdadeiros exemplos de cristianismo podem surgir em nosso meio, isso mesmo, no meio da igreja, por mais paradoxo que possa parecer. Aprendi a não me incomodar tanto com as generalizações, uma vez que os verdadeiros cristãos preferem trabalhar no silêncio e longe das multidões, seu crachá é sua vida. Ratifiquei mais uma vez a tese que liderança se faz pelo exemplo e que o mentorado das novas gerações é feito, mesmo a distância, pelo legado que deixamos quando nossos dias terminam. E aprendi, principalmente, que grandes homens deixam espólios.

Para as pessoas que estavam ao seu redor pelo que ele poderia render o espólio será finito. Mas dou graças a Deus porque para mim e para outros tantos o espólio espiritual deste homem de Deus é infinito e disponível a todos quantos desejarem dele tomar.

Muito obrigado Pastor. Espero vê-lo de novo.

Minhas sinceras condolências a toda família Pimentel de Carvalho.



quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Sobre piás, velhos, bem e mal

Apesar de todas as minhas tentativas (frustradas) de parecer mais jovem minha barriga e os meus poucos cabelos me fazem atentar para a verdade nua e crua, esta minha fase se foi.

Me lembro de algumas conversas que tive com meu irmão onde dizíamos e prometíamos um ao outro que não envelheceríamos. Pois bem, ele cumpriu a promessa e não envelheceu. Faleceu aos 33 anos sendo o cara mais boa praça que eu já conheci. Carregando consigo todos os adjetivos possíveis a imagináveis que uma pessoa pode ter. E entre todos eles, para mim, o que mais o definia era simplesmente "um piá do bem".

Ser um cara do bem parece significar pouco e muito ao mesmo tempo. Enquanto tantos adotam o lado da maldade como regra de vida ainda existem aqueles que não se curvam diante dela. No meu irmão ser um cara do bem soava mais simples e descomplicado, um cara gente boa capaz de amontoar os tijolos no fundo da casa e improvisar uma churrasqueira onde amigos podiam estar reunidos e conversas serem jogadas fora.

Não sei se você já reparou, mas dá impressão que carregamos algum dispositivo de série que nos mostra de alguma maneira a que turma o cara (ou a cara) pertence, "do bem" ou "do mal". Também parece que quanto mais o tempo passa mais difícil fazer o cidadão mudar de lado. Parece que a juventude tem um fator preponderante nas definições futuras do lado que você vai escolher. Minha preocupação é justamente esta, o grande número de jovens escolhendo o lado da maldade, os "piás do mal".

Se há uma coisa que me entristece é ver pessoas tão novas já com ares de "caras do mal". Parece que esta mistura não combina, juventude e maldade não foram feitas para andarem juntas. Parece soar mais familiar dizer um "homem do mal" do que um "piá do mal". Mas o mal é uma doença que tem nos jovens seu grupo de risco. Não adoecer no espírito ainda fresco da juventude pode ser a definição de um destino.

É importante deixar claro que esta doença não tem nada com sexo ou drogas (muito menos rock'n roll), isso sempre existiu no meio de jovens do bem ou do mal. A proliferação dessa doença é muito maior que isto. A maldade que fica estampada é aquela que faz com que o cara chute o bêbado caído no chão enquanto o correto seria levá-lo até sua casa. A maldade clara é aquela que espanca o morador de rua ao invés de lhe oferecer um cobertor. De novo, a questão não é o álcool ou as drogas, a maldade verdadeira é maior que todas as drogas juntas. É mais fácil recuperar um drogado do que tirar a maldade do coração de um jovem.

O Renato tinha razão, cada vez menos os "santos" tem a exata noção da medida da maldade e os jovens continuam adoecendo, cada dia mais, cada dia em maiores quantidades, cada dia com atos mais violentos, cada dia com mais naturalidade, cada dia mais impunes, cada dia mais achando que o certo é errado e o errado é certo.

Se for para envelhecerem assim que se curem antes e só então se tornem homens.

Se meu irmão ainda fosse vivo eu lhe diria: "Mudei de idéia mano, pode envelhecer tranquilo, piás do bem como você serão sempre velhos homens jovens"... saudade.

A maldade envelhece mas a bondade nos faz como crianças.


Nota aos de fora: piá = menino, moleque, guri.