terça-feira, 25 de setembro de 2012

A institucionalização do Eu

 
Sempre fui um crítico da institucionalização das “coisas”. Tudo começa bem, tudo começa puro e com fins louváveis. Então se institucionaliza a ideia, a visão e o fim. Pronto, a partir de agora o que importa não é mais a ideia, a visão, o fim. O objetivo agora é lutar para que a instituição continue firme, nem que para isto seja necessário abandonar a visão e o fim para o qual ela (a instituição) nasceu.
 
Tudo bem, embora crítico não sou contrário, pois o contrário da institucionalização seria a anarquia; e sinceramente não me considero um anarquista. Como tudo na vida, creio que a temperança é o melhor caminho. O que me atordoa é que parece não existir esta opção quando falamos de institucionalização.

Grandes objetivos e projetos são abandonados no caminho institucional e pessoas são corrompidas de seus ideais. É como uma lavagem cerebral. Com o passar do tempo elas acreditam que o fim em si mesmo é manter a instituição viva, mesmo que ela seja só um amontoado de regras e normas que busca um suposto bem coletivo. O problema é que este coletivo acaba não existindo verdadeiramente, é uma falácia.

Tenho um ideal. Crio uma instituição para levar o ideal adiante. A instituição perde o foco e ela própria se torna o ideal. No fim das contas ainda acredito que estou lutando por um ideal, quando na verdade a minha luta é pela instituição.

Conversa de louco não?... Se quiser pare aqui e vai tomar ar fresco. Até eu já estou perdido.

Mas, e hoje? Onde além das empresas, ONG’s, igrejas, associações e etc. as pessoas também estão se institucionalizando. Como assim? Abra o seu perfil em qualquer rede social. O que você vê? Bem vindo a sua página oficial! A completa institucionalização do “Eu”. Um amontoado de regras e normas para definir “o que” você é.

Faça um teste. O que difere o Fulano do Beltrano? A qualidade das fotos? O destino das viagens? Uns vão para o exterior e outros fazem uma farofada na praia mais próxima. O colégio onde estudaram? A empresa onde trabalham? Em resumo: um amontoado de informações que define que você é um indivíduo da classe A, B ou C, sua condição perante a sociedade, seu estado civil, seus hobbies e por aí vai. Claro que tudo isso contado de uma maneira mais brilhante cheia dos pixels da modernidade.

As perguntas são: será que já nos perdemos nos ideais? Será que já estamos trabalhando para a manutenção da instituição chamada “Eu”. Quais são as estratégias de propaganda e marketing que criamos para melhorar a nossa imagem institucional? Talvez publicar aquela foto do vinho que degustei semana passada dê um improvement no meu quesito paladar refinado de petit sommelier, ou então adicionar a informação da conclusão da minha pós-graduação mostre ao “mercado” a minha preocupação com o desenvolvimento constante e sustentável da marca “Eu”. Será dizer muito que as relações humanas estão se convertendo em relações institucionais? Se sim, estou precisando urgentemente de um Vice-Presidente de Relações Institucionais ou de um lobista bem relacionado.

Não. Não sou hipócrita. Também estou “institucionalmente” lá e se você está lendo este texto é porque de alguma maneira você esbarrou com a “Eu” na rede mundial de computadores. Lá você encontra informações valiosas do que eu sou e pode acompanhar num timeline a história virtual da adeildo.com.

Ainda me pergunto onde encontrar a temperança no meio de tudo isso. Qual o ideal humano? Qual o fim e a visão que devemos seguir? A tecnologia mais ajuda ou atrapalha? As relações virtuais estão nos tornando  homens e mulheres melhores?

Talvez a resposta resida na simplicidade, ou seja, não se institucionalize tanto assim. Seja mais informal. Seja um camelô de si mesmo. Faça venda boca a boca ou porta a porta. Prefira um escambo de ganha ganha com os mais chegados. Não se preocupe tanto em registrar os momentos quanto em vivê-los intensamente, mesmo que o “mercado” não tome conhecimento deles.

Talvez assim gastemos menos tempo nos preocupando com o que somos. Afinal de contas, tenho plena convicção que nenhuma rede social consegue ou algum dia conseguirá explicar “quem” somos nós.

Não permita que a institucionalização do “Eu” tire a pureza dos seus ideais. O objetivo por trás da sua criação é bem maior que tudo isto.

Tudo é puro para os que são puros. Tt 1:15

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