segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Melhor assim - Parte 1

Outra vez, tudo igual. De nada adiantaram as promessas, as juras de amor e de perdão. Lá estava Isaura, mais uma vez a sua mercê, debaixo de calúnias, palavras ríspidas, socos e pontapés. Pedro não se controlava, o ciúme doentio o tomava de uma forma avassaladora. Os pensamentos tomavam a sua mente e era impossível para ele acreditar não haver algum motivo a mais para Isaura dedicar tanto tempo naquele lugar, com aquelas pessoas. Além disso, ela tinha mudado, seu semblante era outro, suas palavras eram outras, ela até estava se arrumando melhor, suas atitudes em relação a ele também mudaram. E embora o tratamento dela com ele tivesse melhorado, para Pedro o incômodo, a dúvida e o ciúme aumentavam na mesma proporção. “Ela só pode estar fazendo isto porque me deve alguma coisa”, pensava consigo mesmo. O resultado de tantos pensamentos maus vinha à tona em forma de espancamento.

Mas desta vez Isaura não reagiu, sofreu calada todos os xingamentos, todos os palavrões, todo aquele calvário. Os tapas e socos com o sangue quente do momento não produziam dor física tão grande quanto a humilhação que ela sentia. Mesmo com Pedro em seu encalço ela correu para a porta do quarto e a fechou. Não queria que Guilherme acordasse e presenciasse aquela cena. Caso isto acontecesse a vergonha seria ainda maior. “Deus, não deixe que nosso filho veja isto.” era a oração que ela fazia em espírito.

Por mais que Pedro tentasse se controlar era como se alguém dissesse em seu ouvido: “Ela merece. Talvez apanhando ela aprenda”. Observando a inércia de Isaura, que sofria tudo calada – muito diferente das outras vezes em que ela também tentava agredi-lo – Pedro resolveu usar mais força. Agarrou-a pelo pescoço e a sufocou deitada na cama. Isaura então começou a se debater, agora temendo por sua vida. Em sua mente orava e tentava entender porque tamanha violência, afinal de contas, apesar das agressões anteriores naquele dia ele parecida mais irado do que nunca.

A ira de Pedro era tanta que a possibilidade de mata-la ali, naquele instante, passou por sua mente. Foi quando ele observou que o semblante de Isaura começou a mudar. Era como se ela olhasse para alguma coisa muito além do teto daquele quarto. Ela parou de se contorcer, parecia que o pânico e o medo tinham sido repentinamente tirados dela. Pedro se assustou com aquilo tudo. Afrouxou sua mão pensando que ela havia morrido mas logo percebeu que ela respirava calmamente.

Isaura permaneceu imóvel com os olhos fitos em algo que ele não conseguia enxergar. De repente, como num passe de mágica, num piscar de olhos, Isaura simplesmente desapareceu bem debaixo dele. Pedro deu um pulo para trás tremendo de medo e espanto. Com a respiração e o coração descontrolados começou a suar frio. Sua vista começou a se perder e ele pensou que ia desmaiar. Se apoiou no guarda roupas a ponto de quase colocar a porta já capenga abaixo.

Rapidamente tentou reordenar seus pensamentos e emoções no meio daquela confusão toda e imediatamente começou a procura-la pelo quarto. Olhou embaixo da cama, no vão entre o guarda roupas e a parede e no pequeno banheiro do lado esquerdo do quarto. Olhou atordoado para a porta e viu que ela estava fechada. “Como pode isso? Cadê você Isaura? Eu vou te achar sua vagabunda!”, disse aos berros.

O relógio em cima do criado mudo marcava 0:00.

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