quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

O menino e o vale

Numa terra muito distante, onde não havia sol, uma tribo vivia dentro de uma imensa caverna iluminada pelas chamas de suas grandes tochas.

As densas trevas do vale fora da caverna sintetizavam tudo o que havia de mais aterrorizante e perigoso para eles. Histórias de pessoas que deixaram a caverna e que tiveram suas labaredas de luz quente consumidas pela fria escuridão eram contadas aos jovens que as ouviam com muito medo e respeito.

Todos nasciam e cresciam dentro da imensa caverna e ninguém ousava deixa-la. Aquele povo só prosperaria mantendo-se dentro da caverna e preservando aceso o fogo que segundo a lenda lhes havia sido enviado por Deus.

Certo dia ouviram-se gritos de socorro vindos de fora da caverna. Todos ficaram atordoados e perplexos com o que ouviram. Afinal de contas não lhes faltava ninguém. Todos estavam lá, sãos e salvos.

O conselho da tribo se reuniu para discutir o que deveria ser feito. A maioria dizia não fazer sentido se aventurar nas densas trevas do vale para salvar alguém que eles nem sabiam quem era. Grupos de resgate foram descartados, uma vez que a luz de suas tochas se dissiparia fora da caverna e à medida que menos tochas iluminassem a caverna mais escuridão entraria lá e colocaria em risco todo o povo.

Enquanto discutiam sem chegar a nenhuma conclusão os gritos de socorro se intensificavam e ficavam cada vez mais desesperados.

De repente, quando olharam para a entrada da caverna, viram o filho do chefe da tribo com uma pequena tocha saindo em direção ao vale. Todos correram para tentar impedi-lo, mas à medida que se afastava a luz de sua chama ia sumindo na escuridão. Amedrontados em seguir atrás dele, desistiram da ação.

Os minutos que se seguiram foram de confusão e pavor. O chefe da tribo culpava seus homens por não terem impedido seu filho. As mulheres choravam e se lamentavam pela criança e seguravam seus filhos lhes dizendo que nunca repetissem uma sandice daquela.

Só quando todos pararam de discutir é que se deram conta de que os gritos de socorro haviam cessado.

Os lamentos e choros pelo menino duraram vários meses. O tempo passou e nunca mais se teve notícias dele.

Misteriosamente, após aquele dia, ano após ano, o vale ficava mais claro e mais quente.

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